Se o COI disse que ela podia lutar, respeito’, diz italiana que desistiu da luta contra Imane Khelif
Angela Carini foi derrotada pela argelina Imane Khelif,
ANDRÉ FONTENELLE
PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – A pugilista italiana Angela Carini, que desencadeou uma controvérsia de gênero nos Jogos Olímpicos ao abandonar a luta contra a argelina Imane Khelif, fez saiu em defesa de sua rival nesta sexta-feira (2).
Em entrevista ao jornal italiano Gazzetta dello Sport, Carini afirmou: “Essa polêmica toda me entristece. Também sinto muito por minha adversária. Se o COI disse que ela podia lutar, respeito essa decisão.”
A outro jornal italiano, La Stampa, ela disse: “Se essa moça está aqui, há um motivo. Quem somos nós para julgar? Somos atletas, e não juízes.” Ela avaliou que errou ao deixar o ringue sem cumprimentar a adversária. “Saí com raiva, me equivoquei.”
O caso ocorreu na quinta-feira (1°), em luta da categoria até 66 kg. Depois de levar um soco no nariz, com apenas 46 segundos de luta, Carini chorou e disse: “Já treinei muito com homens, mas hoje senti dor demais.”
A reação da italiana desencadeou uma enxurrada mundial de ataques à argelina, inclusive da primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, que afirmou que homens não deveriam competir com mulheres.
Khelif foi suspensa em 2023 pela Associação Internacional de Boxe (IBA), segundo a qual, após “testes de laboratório”, ao que tudo indica de DNA, ela não atende os critérios de gênero para competir na categoria feminina.
O COI, que retirou da IBA a organização do boxe olímpico e adotou seus próprios critérios de gênero, defendeu Khelif e outra pugilista na mesma situação, a taiwanesa Yu-ting Lin, da categoria até 57 kg. A entidade enfatizou que nenhuma das duas é homem ou trans, e que o critério usado para autorizá-las a competir foi o gênero indicado no passaporte.
“A boxeadora argelina nasceu mulher, foi registrada como mulher, viveu sua vida como mulher, lutou boxe como mulher, tem registro de mulher no passaporte. Não é um caso de transgênero. Cientificamente, não é um homem lutando contra mulheres”, disse Mark Adams, diretor de comunicação do COI.
O QUE DIZ A IBA
Em nota publicada em seu site, a IBA reafirmou sua convicção de que as duas atletas deveriam estar proibidas de disputar lutas na categoria feminina. A entidade afirmou que elas foram testadas duas vezes, por dois laboratórios independentes, em 2022 e em 2023. Diz que Yu-ting nem sequer recorreu da decisão e que Khelif apresentou um apelo, mas depois desistiu do recurso. “A IBA nunca vai apoiar uma luta de boxe entre gêneros”, afirma anota.
“Nós não entendemos por que qualquer organização colocaria uma boxeadora em risco com o que poderia trazer uma potencial lesão grave dentro do ‘campo de jogo’. O principal papel do árbitro no ringue é garantir a segurança do boxeador em todos os momentos. Como isso é razoavelmente praticável quando um boxeador não atende aos critérios de elegibilidade para competir?”, questiona a IBA.
A agências internacionais, o presidente da IBA, o russo Umar Kremlev, defendeu a decisão da entidade. “Baseado em testes de DNA, nós identificamos atletas que tentaram enganar seus colegas se passando por mulheres”, afirmou.
DESISTÊNCIA DA ITALIANA
Após a luta, a italiana Carini justificou sua desistência. “Não podia continuar. Meu nariz doía muito e eu disse: ‘Parem’. Era melhor não continuar”, afirmou. “Poderia ter sido a luta da minha vida, mas naquele momento eu também tinha que proteger minha vida”.
“Sempre lutei contra homens, treino com meu irmão, mas hoje senti muita dor”, afirmou Carini sobre a potência dos golpes recebidos.
A próxima luta de Khelif será no sábado, por volta do meio-dia, contra a húngara Anna Luca Hamori, pelas quartas da categoria até 66 kg.
“SÃO MENTIRAS”
Nesta quinta-feira, Khelif foi recebida no Paris Arena Norte com aplausos de muitos fãs da Argélia, que agitavam suas bandeiras nacionais.
Horas antes, o Comitê Olímpico Argelino (COA) saiu em defesa de sua boxeadora, garantindo que ela é vítima de “mentiras” e “ataques antiéticos”.