CBF perdida

Seleção fica sem Ancelotti, Diniz não decola e Brasil está à deriva

O fim do sonho de contar com o multicampeão é a pá de cal na temporada desastrosa da CBF, que perdeu mais de um ano no processo de reformulação da equipe desde a saída de Tite ao término da participação brasileira na última Copa do Mundo, em 2022, no Qatar

Fernando Diniz durante confronto entre Brasil e Argentina pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026, no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. Foto: Carl de Souza/AFP

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A espera por Carlo Ancelotti, 64, teve fim, mas não como a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) esperava. Nesta sexta-feira (29), o Real Madrid anunciou a renovação do contrato com o italiano até 2026 e frustrou os planos da entidade para que o treinador assumisse a seleção brasileira em 2024.

O fim do sonho de contar com o multicampeão é a pá de cal na temporada desastrosa da CBF, que perdeu mais de um ano no processo de reformulação da equipe desde a saída de Tite ao término da participação brasileira na última Copa do Mundo, em 2022, no Qatar.

Ao longo de 2023, a entidade máxima do futebol brasileiro apostou em dois interinos. Primeiro, foi Ramon Menezes. Depois, Fernando Diniz assinou em junho um contrato de um ano, sempre sendo tratado como interino, uma vez que a confederação dava como certa a chegada de Ancelotti depois desse período.

Procurada pela reportagem, a CBF disse que não iria se manifestar.

O acordo com o italiano, que nunca confirmou qualquer acerto publicamente, teria sido costurado por Ednaldo Rodrigues, destituído pela Justiça do Rio de Janeiro, que indicou Jose Perdiz, presidente do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), como interventor.

Em meio à turbulência política que levou Ednaldo a perder seu cargo, a seleção brasileira também viveu uma crise técnica em campo. A sequência inédita de derrotas nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026 levou Fernando Diniz a fechar a temporada 2023 com o terceiro pior início de um treinador à frente da equipe canarinho.

Anunciado em julho sem se desligar do Fluminense, o técnico não conseguiu evitar três derrotas consecutivas (para Uruguai, Colômbia e Argentina), além do primeiro revés brasileiro como mandante na história do torneio classificatório, contra os argentinos, no Maracanã.

Das seis partidas disputadas neste ano pelas Eliminatórias, o Brasil venceu apenas duas (Bolívia e Peru) e empatou outra, contra a Venezuela. Os resultados deixaram Diniz com um aproveitamento de apenas 39%, e a equipe em sexto lugar, na última posição que garante uma vaga na Copa.

Levantamento da Folha de S.Paulo com base no histórico da seleção mantido pela RSSSF Brasil (braço nacional da Rec.Sport.Soccer Statistics Foundation) mostra que o técnico teve o terceiro pior início entre todos que já dirigiram a equipe. Apenas Paulo Roberto Falcão e Chico Netto tiveram desempenhos nas seis primeiras partidas oficiais.

A entidade define como oficiais as partidas entre seleções (incluindo amistosos) e como não oficiais os duelos com times e combinados nacionais ou estrangeiros.

Com cinco empates e uma derrota, Falcão registrou 28% de aproveitamento no arranque de uma rápida passagem entre 1990 e 1991, período em que dirigiu a seleção em apenas 19 jogos. Ele enfrentou dificuldades em obter vitórias convincentes, e o desempenho irregular na Copa América de 1991 abreviou seu trabalho.

Chico Netto também teve uma breve passagem como técnico da seleção em 1923, pouco depois de fazer parte da comissão técnica da equipe. À época, ele obteve 33% nos seis primeiros jogos, com duas vitórias e quatro derrotas em seu registro.

Osvaldo Brandão (1955-1956), Evaristo de Macedo (1985) e Emerson Leão (2001) aparecem na sequência entre os piores inícios de trabalho na seleção, todos com 50% de aproveitamento nos seis primeiros jogos oficiais, de acordo com os critérios da RSSSF Brasil.

Para Diniz, as estatísticas não são suficientes para refletir o trabalho. Em sua jornada, ele admite as oscilações do time, mas vê isso como parte do processo de reformulação do elenco, necessário após os fracassos nas duas últimas Copas do Mundo.

“Na vida, não se pode pegar e colocar uma estatística. Achar que é apenas estatística. Se é só estatística, está tudo muito ruim, mas a gente precisa analisar como um processo de mudança”, disse o técnico após a derrota para a Argentina, por 1 a 0, no Maracanã.

Ele também lamenta a perda de Neymar, que se contundiu contra o Uruguai e acabou fora dos confrontos contra Colômbia e Argentina. Apesar dos questionamentos a respeito do desempenho do jogador em suas últimas temporadas, Diniz o considera peça fundamental para o time.

Aos 31 anos, o camisa 10 sofreu uma lesão grave no joelho esquerdo, com o rompimento do ligamento cruzado anterior e do menisco. Assim, ele ficará afastado por até 12 meses e não deve jogar na próxima Copa América, em 2024, nos Estados Unidos.

Também não se sabe ainda quem estará à beira do gramado no comando do Brasil durante a competição. O contrato de Diniz prevê vínculo até 5 de julho. Assim, ele teria somente mais duas partidas à frente da equipe, dois amistosos em março, contra Inglaterra e Espanha.

Depois disso, o plano da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) era contar com Ancelotti. Agora, nem se sabe quem tomará as decisões sobre o futuro da equipe.

De um lado, a Justiça do Brasil determinou que o interventor convoque eleições em janeiro. Do outro, a Fifa e a Conmebol afirmam que não reconhecem a intervenção e impedem que tal eleição seja realizada antes que uma delegação das entidades venha ao Brasil para inspecionar a situação.

Seja qual for o desfecho, a turbulência política na entidade e a dificuldade de encontrar um técnico de consenso podem beneficiar Fernando Diniz, afinal há pressa para definir logo o novo comandante do Brasil e evitar que se tenha novamente um ano considerado perdido como foi 2023.