Estádio

Times da NFL impuseram os mini campos da Copa América

As franquias de football barraram obras ou mudanças drásticas na estrutura para abrir espaço para o soccer

EDER TRASKINI, IGOR SIQUEIRA E THIAGO ARANTES
LAS VEGAS, EUA, RIO DE JANEIRO, RJ, E BARCELONA, ESPANHA (UOL/FOLHAPRESS) – Os campos reduzidos da Copa América têm uma explicação fundamental: os donos dos estádios não toparam adequar suas arenas para as dimensões mais comuns no futebol.

Os interesses dos proprietários -a maioria da NFL- prevaleceram. As franquias de football barraram obras ou mudanças drásticas na estrutura para abrir espaço para o soccer. Isso geraria impacto com fechamento temporário das arenas e redução da capacidade de público.

A Conmebol não conseguiria gerar tamanho “transtorno” porque, diferentemente de edições da Copa América em outros países, a entidade não fica com o controle do estádio durante a competição toda. Atua como uma locatária, como outra qualquer.

Em Miami, sede da final, haverá dois jogos, um show, e depois a Conmebol volta montando toda a estrutura para a decisão de 14 de julho. Não há margem para negociação.

Com esse cenário, a Conmebol precisou, então, colocar no artigo 41 do regulamento: “O campo de jogo no estádio terá preferencialmente as seguintes dimensões: 100m de comprimento por 64m de largura”.

Com a cara da NFL, o campo é mais estreito e mais curto: 5m a menos de comprimento e 4m a menos de largura do que o padrão Fifa -com o qual a elite do futebol está acostumada.

Num cálculo simples de área, uma perda de 740m².
– Área no padrão Fifa: 7.140m²
– Área na Copa América: 6.400m²

E AGORA?

O efeito dos números se torna concreto quando a seleção brasileira, por exemplo, tem dificuldade de arrumar espaço na retranca da Costa Rica. Embora esse não tenha sido o único motivo para o empate sem gols na estreia.

O espaço apertado para a batida de escanteio no jogo da seleção, disputado no SoFi Stadium, em Los Angeles, foi um retrato prático de como a intervenção não seria simples. Um muro de concreto estava logo ali ao lado.

Segundo o UOL apurou, a Conmebol discutiu o assunto com as associações em uma reunião do conselho há pelo menos oito meses. E aí, os “mini campos” entraram no regulamento.

O que também dificultou a busca por alternativas foi o fato de a Major League Soccer (MLS), a liga de futebol dos Estados Unidos, não ter parado durante a Copa América -disso, o CBF não pode nem reclamar, porque o Brasileirão segue de vento em popa e com desfalques.

Os estádios da NFL são de grande porte. Das 14 arenas escolhidas para a Copa América, 11 têm capacidade para mais de 60 mil pessoas.

E aí, a Conmebol se viu diante da escolha: jogos em estádios menores, com menos público e retorno financeiro reduzido? Ou ajustar as dimensões do gramado? Sobrou para o pedaço de grama. A aposta é em arquibancadas cheias, ainda que diante de “mini campos”.

E se ao menos um dos estádios selecionados não conseguiria passar a ter dimensões no padrão Fifa, o jeito foi ampliar para todos os campos da competição.

E olha que três estádios relativamente pequenos entraram no cronograma de partidas – servindo para desafogar dois dos três hubs regionais montados para a competição.

Na Costa Leste, o Inter&Co Stadium, em Orlando, Flórida, tem capacidade para 25 mil pessoas e será sede de Canadá x Chile e Bolívia x Panamá.

Na Região Central, o Children’s Mercy Park, em Kansas City, recebe até 18 mil pessoas e foi palco de um jogo só: Peru x Canadá.

Também nesse hub central, o Q2 Stadium, em Austin, no Texas, tem capacidade para 20 mil e abrigará Jamaica x Venezuela e Costa Rica x Paraguai.

OS JOGADORES NÃO CURTIRAM

A seleção brasileira, por exemplo, fez dois amistosos e desde o início do mês treina em campos com dimensões reduzidas. Mas a adaptação ainda é penosa.

“Digam vocês se essa dimensão do campo ajuda ou não. É o que é e pra todas as equipes. Não adianta tocar nesse assunto sempre. Única coisa me deixa muito insatisfeito é que os jogadores e os treinadores nunca são perguntados a respeito disso. Simplesmente tomam as decisões que tem que tomar por conta deles e a gente é obrigado a aceitar. É assim que funciona”, disse o lateral-direito Danilo, capitão do Brasil.

As manifestações têm sido mais de quem atua em campo do que da parte diretiva. Até porque o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, faz parte do Conselho da Conmebol que avalizou os campos reduzidos.

É nesse aperto que a seleção brasileira tenta voltar a vencer e conquistar um título. Em tese, o cenário fica mais difícil para quem quer atacar e mais fácil para os retranqueiros.

Colômbia, Argentina e Uruguai venceram os seus jogos de estreia, mesmo com campos menores. O Brasil, não.