Esporte

Todo mundo virou comentarista de esporte que não entende nada

As Olimpíadas têm o poder de transformar brasileiro em expert de modalidades que ele nem sabia que existia

Foto: Wander Roberto/COB

Foi Nelson Rodrigues quem cunhou a expressão que define o sentimento do brasileiro para com o futebol: a pátria de chuteiras. A frase se destaca de tal forma no incrível universo do autor que serviu de título para um livro de crônicas que o jornalista publicou ao longo de sua trajetória.

Mas as chuteiras serviram ao autor só por que ele não teve a inspiração durante uma edição das Olimpíadas. Se assim fosse, ele poderia ter escrito a pátria de quimonos. Ou a pátria mandando ver um ollie. Ou a pátria com o peito depilado e de touca nos 100 metros livres. Tanto faz. O torneio olímpico autoriza o brasileiro a se descabelar, torcer e se transformar em comentarista de esportes que ele sequer imaginava que existissem.

E está lá no zap sua tia mandando mensagem no grupo de família xingando juiz do surfe que teria roubado Gabriel Medina. Sim, sua tia nascida, criada e ainda residente em Varjão. E que a vez em que ela chegou mais perto do mar foi quando batizou uma afilhada em Uberlândia.

Ou então está lá seu amigo de infância que lhe zoava por conta dos tombos de skate na pista do Mutirama comemorando cheio de emoção a medalha da Rayssa Leal.

Tudo tranquilo. Faz parte da dinâmica desse mês atolado de atividades esportivas e no qual é permitido ficar até de madrugada acompanhando a ginástica olímpica, mesmo tendo uma apresentação para fazer no trabalho às sete e meia da manhã.

Nessa excitação coletiva, o Twitter virou uma loucura. Na rede social em que o mau humor é a regra, não se perdoa nada. Qualquer deslize, vacilo ou até mesmo uma lutadora de taekwondo da Jordânia que é a cara da Lady Gaga é motivo de debates intensos.

O lance é aproveitar essa onda que as Olimpíadas proporcionam e aproveitar para nos divertirmos um pouco. Pois a gente sabe que assim que a disputa em Tóquio se encerrar, a gente volta pra pauta ordinária e frustrante em que estamos atolados no Brasil.

Inflação na bomba de combustível, carestia no supermercado, mutreta na compra de vacinas no Ministério da Saúde, rachadinha no gabinete de filho do presidente…

É melhor curtir a onda e desanuviar a cabeça xingando o juiz da disputa de vôlei de praia enquanto ainda temos essa oportunidade.

@pablokossa/Mais Goiás | Foto: Wander Roberto/COB