230 brasileiros estão retidos na África do Sul após descoberta da variante ômicron do coronavírus
Luiza Oliveira tem 8 anos e uma cirurgia marcada para o dia 9 em Curitiba.…
Luiza Oliveira tem 8 anos e uma cirurgia marcada para o dia 9 em Curitiba. A operação para correção da vista (estrabismo) era para ter acontecido em julho do ano passado, mas teve que ser adiada por conta da pandemia. Ela mora com a família em Joanesburgo desde 2019. A mãe, Vera Lúcia Santos, conta que eles embarcariam na quinta-feira (2) para o Brasil, viajando pela companhia Qatar Airways, que cancelou voos partindo da África do Sul por conta da descoberta da variante ômicron do coronavírus.
Os exames pré-operatórios estão agendados, segundo a mãe, que está em contato com a médica da menina. Preocupada, ela não sabe quando poderão viajar e lembra que a filha não pode esperar mais pela cirurgia. A sensação dela também é de indignação com as restrições impostas por países a turistas vindos de parte do sul da África ou que estiveram nesta região nos 14 dias anteriores à data do desembarque.
“Não tem como ter calma neste momento. A gente fica esperando a data chegar e nem sabe que data será essa, do voo”, desabafou. Para Vera Lúcia isso ainda mostra que o mundo não está unido. “A África do Sul ajudou a descobrir um problema que pode afetar todo o mundo e, como consequência, o país está sendo punido por isso”, disse.
Outra brasileira que também vive em Joanesburgo há seis anos e planejou visitar a família no Brasil neste fim de ano é Karina Polycarpo, que trabalha em um estúdio de fotografia e é casada com um sul-africano. Há dois anos ela não vê os pais e ficou em choque quando soube da notícia que pode ter adiado este reencontro.
“Quando eu ouvi a notícia no rádio, logo pela manhã, meu coração ‘parou’. As passagens já estão extremamente caras, todas as opções. É um investimento financeiro grande e emocional também”, disse. Mas ela, que tem esperança de conseguir embarcar na semana que vem, também demonstrou indignação com as restrições impostas a viajantes vindos da África do Sul.
“Não é uma variante sul-africana, não se sabe onde começou. A África do Sul tem feito desde o começo dessa pandemia um trabalho maravilhoso com cientistas. Então, realmente o que o [presidente sul-africano] Cyril Ramaphosa falou ontem foi o que todos nós estamos sentindo. Nós estamos nos sentindo extremamente injustiçados”, desabafou.
Sem previsão
Ao contrário das duas, que já vivem no país, o policial militar Thomaz Augusto Santana França desembarcou na África do Sul no último dia 21. Ele veio a passeio, planejando ficar duas semanas. O retorno estava previsto para o próximo domingo (5), pela Emirates. Mas o voo também foi cancelado. Ele contou que recebeu uma mensagem da empresa, por e-mail, mas “não deram justificativa nenhuma sobre o cancelamento nem previsão de novas datas para embarque”.
O brasileiro disse que a notícia sobre a nova variante não o assustou, em um primeiro momento. “A descoberta da variante foi algo que veio a acrescentar nos estudos sobre o vírus. O que me chateia é o fato de outras nações não compreenderam a situação e fecharem as fronteiras, prejudicando nosso retorno ao nosso país de origem. Isso tem trazido transtorno e preocupação”, contou.
A embaixada do Brasil, em Pretória, e o consulado-geral brasileiro na Cidade do Cabo emitiram uma nota informando que 230 brasileiros estão retidos aqui na África do Sul. Mais da metade (70%) na Cidade do Cabo. Reforçou que brasileiros e residentes no Brasil podem, sim, voltar para o país e não há razão para que as companhias aéreas impeçam seus embarques. As restrições brasileiras são sobre estrangeiros que estiveram no país nos 14 dias anteriores à viagem. A embaixada disse ainda que está fazendo o possível para facilitar o embarque dos brasileiros que já estão com bilhetes comprados.
Novos casos
A estimativa de que, nos próximos dias, a África do Sul passe a registrar –mais uma vez– cerca de 10 mil novos casos por dia confirmou o que já era esperado: a quarta onda de infecções no país se aproxima. Esta previsão foi apresentada pelo infectologista Salim Abdool Karim em entrevista na manhã desta segunda-feira junto do ministro da Saúde, Joe Phaahla, e outros especialistas.
O relatório divulgado na noite desta segunda registrou 2.273 novos casos e 25 mortes na África do Sul. Mesmo com a quantidade de novos infectados aumentando desde a semana passada e a identificação da variante ômicron, o governo sul-africano reforçou que não há motivos para pânico. No pronunciamento na TV, domingo à noite, o presidente Cyril Ramaphosa pediu que os países voltem a permitir voos entre países do sul do continente africano.