INÉDITO

Americanos alcançam feito científico inédito na fusão nuclear, ao gerar mais energia do que a gasta no reator

Feito de laboratório da Califórnia pode gerar salto em geração energética limpa, com menos emissões de CO2

Cientistas da Califórnia fizeram um avanço na tecnologia de fusão nuclear, produzindo pela primeira vez mais energia do que a consumida no reator. A conquista foi feita no Laboratório Nacional Lawrence Livermore (LLNL), do Departamento de Energia dos EUA, perto de São Francisco, na Califórnia, de acordo com uma fonte familiarizada com a pesquisa, que pediu anonimato para discutir os resultados que ainda não foram totalmente divulgados ao público.

Seria a primeira vez que se obtém com sucesso mais energia em uma reação de fusão – o mesmo tipo de energia que alimenta o Sol e as demais estrelas – do que foi consumido no processo de produção, marcando um passo importante em direção à energia de carbono zero.

Lasers foram usados para bombardear isótopos de hidrogênio mantidos em um estado de plasma superaquecido para fundi-los em hélio, liberando um nêutron e energia limpa livre de carbono no processo. Os cientistas vêm experimentando a tecnologia há décadas, mas conseguir que o processo produza mais energia do que consome tem sido difícil.

A reação produziu cerca de 2,5 megajoules de energia em comparação com os 2,1 megajoules usados para alimentar os lasers, de acordo com o Financial Times, que divulgou os resultados anteriormente.

Embora os resultados representem um avanço, ainda há um longo caminho até a criação de uma tecnologia viável, quanto mais para fornecer energia limpa suficiente para ajudar a afastar o mundo dos combustíveis fósseis e frear as mudanças climáticas.

A participação de mercado potencial da fusão nuclear também será desafiada pela energia solar e eólica, ambas mais baratas e com cadeias de suprimentos maduras. Sua principal desvantagem – geração intermitente – está sendo abordada por uma indústria de armazenamento de baterias em rápido crescimento.

Ainda assim, se a fusão puder ser ampliada, ela oferece a promessa de energia limpa 24 horas por dia com menos riscos e resíduos perigosos do que a tecnologia de fissão nuclear, pela qual se quebra o núcleo de um átomo e cria resíduos altamente radioativos, e é comercial há décadas e produz apenas 10% da energia mundial, muito menos do que o carvão e o gás.

Diferente da fissão nuclear, princípio da bomba atômica de Hiroshima, a fusão une os núcleos de dois átomos diferentes e produz muito mais energia do que a fissão deles, mas é preciso aquecer o átomo a altíssimas temperaturas. No caso do experimento do JET, os gases utilizados foram aquecidos a 150 milhões ºC, cerca de dez vezes mais do que a temperatura no centro do Sol.

O Departamento de Energia disse anteriormente que a secretária Jennifer Granholm planejava fazer o anúncio na terça-feira de um “grande avanço científico” no laboratório nacional realizado por pesquisadores da Administração Nacional de Segurança Nuclear do departamento.

O investimento em startups de fusão como Commonwealth Fusion Systems e Helion Energy saltou para US$ 2,3 bilhões em 2021 e provavelmente totalizará mais de US$ 1 bilhão este ano, de acordo com a BloombergNEF.

Mais energia que carvão, petróleo e gás

Segundo estimativas, usinas de fusão nuclear em pleno funcionamento poderiam produzir até quatro milhões de vezes mais energia do que o carvão, o petróleo e o gás. Os cientistas apontam ainda que o processo produz menos lixo tóxico, gera menos emissões, traz menos riscos e pode usar materiais que são mais facilmente encontrados na natureza, como os dois isótopos de hidrogênio usados no JET, o deutério e o trítio. Isso no momento em que o mundo discute uma transição para formas mais limpas de energia para tentar limitar os efeitos das mudanças climáticas.

Em janeiro, o laboratório JET (Joint European Torus), o maior reator do mundo, com sede no Reino Unido, quebrou seu próprio recorde mundial de produção de energia. Foram gerados 59 megajoules, o equivalente a 11 megawatts, por cinco segundos, o dobro do que havia conseguido 25 anos atrás, ‘esmagando’ dois átomos de hidrogênio.