Após 73 anos de espera, príncipe Charles prepara-se para sucessão
Há exatos 73 anos, nove meses e 25 dias, Charles Philip Arthur George se prepara…
Há exatos 73 anos, nove meses e 25 dias, Charles Philip Arthur George se prepara para ser rei. São 647,1 mil horas ou 38,8 milhões de minutos desde seu nascimento. Aos 4 anos incompletos, ele foi a primeira criança na linha de sucessão ao trono britânico a testemunhar presencialmente a cerimônia de coroação de seu genitor, a filha primogênita do rei George VI, Elizabeth II, que faleceu nesta quinta-feira (8).
Charles deve abrir um novo capítulo na história deste reino que se prepara para uma nova geração dos Windsor, em pleno século XXI, quando a própria ideia de soberanos hereditários parece cada vez mais anacrônica.
Pesquisa do YouGov do segundo trimestre deste ano mostra que, enquanto 75% dos britânicos têm uma opinião positiva de Elizabeth II, o índice para Charles é de 42%. Seu filho William, segundo na linha de sucessão, tem 66%.
Charles nunca disfarçou a vontade de interferir em certos temas da vida pública britânica. Nos últimos anos, manifestou-se em questões ambientais, defendeu medicamentos homeopáticos no sistema de saúde público e melhores equipamentos para os soldados britânicos no Iraque. Também advoga ardorosamente determinados estilos arquitetônicos que, segundo ele, deveriam inspirar as novas construções residenciais. Em 2015, depois anos brigando na justiça, o jornal The Guardian, ganhou o direito de revelar o conteúdo de 27 cartas de próprio punho que o príncipe endereçou a integrantes do governo para, suspeita-se, interferir em suas decisões. O caso ficou conhecido como os “arquivos aranha negra”, apelido que ganharam as missivas por causa da caligrafia peculiar do príncipe herdeiro.
A vida amorosa do príncipe também se manteve sob os holofotes, do conto de fadas com a carismática Diana, mãe de seus dois filhos, ao escândalo com Camilla Parker-Bowles. A morte de Diana em um acidente de carro em Paris em 1997 criou grande comoção e está por trás de boa parte da antipatia por Charles. Camilla, a ex-namorada de juventude, com quem admitiu, em 1994, ter um caso extraconjugal, tornou-se sua mulher em 2015.
Enquanto espera, Charles se dedicou, entre outros projetos, a negócios com produtos orgânicos. Em 2021, contudo, entregou a fazenda em que produzia desde 1985 à marca Duchy Organic, que ele próprio havia fundado. Um novo contrato de exploração o prenderia por mais 20 anos à empreitada, o que julgou complicado diante da iminente tarefa de ocupar o trono. A paixão pelos orgânicos, contudo, segue no Palácio de Sandringham, onde assumiu a produção do pai, o duque de Edimburgo, morto em 2021 aos 99 anos.
Maldição dos Charles
Para especialistas, os súditos aprenderão a gostar do próximo rei e suas excentricidades — como cadarços de sapato passados a ferro ou a caixa de café da manhã que carrega em todas as suas viagens com itens orgânicos, incluindo seis tipos de mel. Também terão de acostumar-se a chamá-lo de Charles III, ou outro nome de sua preferência. Há quem diga que já cogitou usar George VII, dadas as biografias dos outros dois reis Carlos. O primeiro, coroado em 1625, dissolveu o Parlamento três vezes, reinando pelo período que ficou conhecido como “11 anos de tirania”. Após duas guerras civis, foi julgado, condenado como “tirano, traidor e inimigo público da nação” e decapitado. Seu filho, Carlos II, foi mais popular, mas teria tido ao menos 14 filhos ilegítimos.
Charles tentará renovar a imagem da monarquia, e já avisou que a corte será mais enxuta sob sua gestão. A pauta da mudança do clima, outra de suas favoritas, também deve ajudá-lo a se colocar como um monarca atrelado a um propósito nobre para a Humanidade. Para o ator Josh O’Connor, que o interpretou na série “The Crown”, do Netflix, Charles vive uma situação bizarra: “Ele não quer necessariamente o poder, mas até ela [a rainha] morrer, que diabos ele faz? O que é a sua existência? Não tem um propósito”, disse à revista Esquire UK em 2020.