Guerra na Ucrânia

Ataque a estação de trem deixa ao menos 39 mortos e quase 90 feridos, dizem autoridades da Ucrânia; Rússia nega autoria

Autoridades locais apontam que dois mísseis atingiram a parada em Kramatorsk, na região separatista de Donetsk

Um suposto ataque russo a uma estação de trem em Kramatorsk, principal ponto de fuga de milhares de pessoas que tentam escapar das regiões do Leste da Ucrânia, deixou 39 mortos e 87 feridos, segundo autoridades ucranianas. A Rússia nega a autoria do ataque.

O governador da região de Donetsk disse que foguetes atingiram uma estação ferroviária lotada de mulheres, crianças e idosos. “Milhares de pessoas estavam na estação durante o ataque com mísseis, pois os moradores da região de Donetsk estão sendo removidos para regiões mais seguras da Ucrânia”, disse o governador, Pavlo Kyrylenko, em comunicado.

O presidente Volodymr Zelensky disse que dois poderosos foguetes atingiram a estação e que foi um ataque deliberado contra civis. Zelensky disse que não havia militares na estação de trem.

— Atiraram em uma estação de trem comum, em pessoass comuns, não havia militares lá — afirmou o presidente ucraniano em uma mensagem ao Parlamento da Finlândia. — Sem força e coragem para nos enfrentar no campo de batalha, eles estão cinicamente destruindo a população civil.

Kramatorsk é a capital da região de Donetsk que ainda permanece sob controle ucraniano. Separatistas pró-Rússia controlam a maior parte da região e da vizinha Luhansk desde 2014.

A agência Reuters ainda não pôde verificar o que aconteceu na estação de modo independente. Um repórter da agência AFP esteve na estação horas antes do ataque e havia centenas de pessoas no local, tentando sair para partes mais seguras da Ucrânia.

Fotógrafos da AFP que fizeram fotos posteriormente no lugar relataram ter visto automóveis carbonizados nas proximidades e sangue no interior da estação. Os corpos das vítimas teriam sido retirados de dentro da estação e estavam alinhados do lado de fora.

O Ministério da Defesa da Rússia chamou os relatos de que a Rússia foi responsável por um ataque a uma estação de trem em Kramatorsk de “provocação”. O ministério disse em comunicado que o tipo de míssil usado que segundo os ucranianos foi usado no ataque, o Tochka-U, é usado apenas pelas Forças Armadas da Ucrânia e que as tropas russas não fizeram nenhum ataque contra Kramatorsk nesta sexta-feira.

O chefe da ferrovia ucraniana disse que pelo menos duas crianças estão entre os mortos. O prefeito de Kramatorsk, Oleksander Honcharenko, disse que cerca de 4 mil pessoas estavam na estação no momento do ataque.

O governador Kyrylenko publicou uma fotografia on-line mostrando vários corpos no chão ao lado de pilhas de malas e outras bagagens. Policiais armados vestindo coletes à prova de balas estavam ao lado deles.

Outra foto mostrava serviços de resgate combatendo o que parecia ser um incêndio, com uma nuvem de fumaça cinza subindo no ar.

Em um vídeo divulgado pelo governo ucraniano, a inscrição “para as crianças” pode ser vista rabiscada em letras brancas na lateral dos destroços de um míssil.

Autoridades ucranianas dizem que as forças russas estão se reagrupando para uma nova ofensiva e que Moscou planeja tomar o máximo de território possível na parte Leste da Ucrânia, conhecida como Donbass, na fronteira com a Rússia. Rebeldes pró-Moscou atuam na área desde 2014.

Autoridades locais em algumas áreas têm pedido aos civis que saiam enquanto ainda é possível e relativamente seguro fazê-lo. Na quinta-feira, a Reuters informou que três trens que transportavam ucranianos foram bloqueados na mesma região após um ataque aéreo na linha.

O presidente do Conselho Europeu disse que a União Europeia (UE) deveria adotar mais sanções contra a Rússia. Pouco antes, a União Europeia formalizou sua quinta rodada de sanções contra a Rússia desde o início da guerra.

“Horrível ver a Rússia atacar uma das principais estações usadas por civis que deixam a região onde a Rússia está intensificando seu ataque”, disse Charles Michel, no Twitter. “É necessária ação: mais sanções contra a Rússia e mais armas para a Ucrânia estão a caminho da UE.”

Uma porta-voz da Casa Branca, Kate Bedingfield, classificou as imagens como “horríveis e devastadoras”.

Negociações

Depois de concordar em reduzir a ofensiva em Kiev e arredores, a Rússia está reagrupando forças de várias partes da Ucrânia para retomar com mais vigor a campanha no Leste do país. Nesta quinta-feira, o governo de Vladimir Putin lançou acusações contra a delegação diplomática do governo ucraniano, alegando que Kiev alterou sua posição sobre cláusulas previamente acordadas.

O ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, disse que Kiev apresentou um novo esboço de um tratado na quarta-feira no qual cláusulas sobre quais já havia consenso sofreram alterações.

Segundo Lavrov, na semana passada Kiev concordou inicialmente que as garantias de segurança que seriam dadas à Ucrânia por um grupo de países não se aplicariam à Península da Crimeia, anexada militarmente pela Rússia em 2014. Disse, também, que qualquer exercício militar poderia ser realizado pela Ucrânia apenas com o consentimento de todos os países garantidores, incluindo a Rússia. Segundo o chanceler russo, no entanto, no novo projeto de documento este parágrafo é substituído pela necessidade de obter o consentimento da maioria dos países garantidores.

As acusações acontecem em um contexto de esfriamento das negociações, após as descobertas de corpos abandonados com indícios de execução em ruas de cidades que a Rússia ocupava, como Bucha, nos arredores de Kiev.