Bento 16 pede perdão e admite erros da igreja ao lidar com abuso sexual na Alemanha
O papa emérito Bento 16, envolvido em uma investigação sobre abusos sexuais de menores de idade que…
O papa emérito Bento 16, envolvido em uma investigação sobre abusos sexuais de menores de idade que teriam ocorrido durante sua gestão como arcebispo de Munique, na década de 1980, reconheceu em carta divulgada nesta terça-feira (8) que erros foram cometidos na forma como a igreja lidou com os casos.
“Tive grandes responsabilidades na Igreja Católica“, diz o papa emérito no texto, a primeira resposta pessoal a um relatório sobre o assunto divulgado em janeiro. “É grande a minha dor pelos abusos e erros que ocorreram em diferentes lugares durante o meu mandato.”
Ele diz, ainda, que está consolado pelo perdão de Deus e que, apesar de quaisquer erros que possa ter cometido, Deus será o juiz final. “Em breve, estarei diante do juiz final da minha vida”, afirma Joseph Ratzinger —nome do papa emérito—, 94.
Bento 16 alega ser “profundamente doloroso” o fato de um descuido ter sido usado para levantar dúvidas sobre sua veracidade e rotulá-lo de mentiroso. Ele se refere a declarações que deu na semana passada, por meio de um porta-voz, afirmando que havia participado de uma reunião em que foi discutida a situação do padre Peter Hullermann, acusado de abusar sexualmente de dezenas de menores.
Ratzinger, até então, negava ter participado do encontro. Ainda assim, segue dizendo que a reunião não tratou da admissão de Peter na arquidiocese de Munique, assunto que teria sido abordado em outro encontro —esse sem o papa emérito. “Estou particularmente grato pela confiança, apoio e oração que o Papa Francisco me expressou pessoalmente”, seguiu ele na carta divulgada nesta terça.
Hullermann atuava inicialmente na diocese de Essen, mas, diante de denúncias de familiares das crianças abusadas, foi afastado. Na sequência, foi aceito na arquidiocese de Munique, então liderada por Bento 16. Entre 1973 e 1996, o padre teria abusado de pelo menos 23 meninos com idades entre 8 e 16 anos.
As declarações do papa emérito são uma resposta a um relatório independente que, em janeiro, o acusou de encobrir casos de abusos sexuais contra crianças na Igreja Católica da Alemanha.
Na ocasião, o advogado Martin Pusch, que fez parte da apuração, afirmou que Bento 16 sabia dos fatos e que poderia ser acusado de má conduta em pelo menos quatro casos, sendo dois relacionados a abusos cometidos durante sua gestão e punidos pelo Estado. Em ambos, os perpetradores teriam seguido ativos na atividade pastoral.
Encomendada pela arquidiocese de Munique e Freising para apurar casos na sua jurisdição, a investigação contabilizou ao menos 497 vítimas de abuso entre 1945 e 2019 e pelo menos 235 suspeitos.
Os investigadores apontam que há uma chance de o número ser ainda maior, já que centenas de outros casos podem nunca ter chegado a ser denunciados à instituição. A maioria das vítimas era do sexo masculino, e 60% tinham entre 8 e 14 anos.
Falando sobre faltas graves cometidas por fiéis, o papa emérito disse, na carta divulgada pelo Vaticano nesta terça, que todos são atraídos para falhas quando negligenciam ou deixam de enfrentar uma responsabilidade necessária. “Mais uma vez só posso expressar a todas as vítimas de abuso sexual minha profunda vergonha, minha profunda tristeza e meu sincero pedido de perdão”, declarou.
Conselheiros de Bento 16 emitiram comunicado, na semana passada, rechaçando as acusações contra ele. “Quando foi arcebispo, o cardeal Ratzinger não esteve envolvido em tentativas de esconder abusos”, dizem os quatro conselheiros, que caracterizam as informações do relatório independente como equivocadas.