METADE QUER MUDANÇA

Boca de urna aponta empate em eleição que define futuro da Polônia

Presidente Andrzej Duda está 0,8% ponto percentual à frente do centrista Rafał Trzaskowski, segundo enquete

Andrzej Duda, presidente da Polônia (Foto: Divulgação)

Os poloneses foram às urnas neste domingo em uma eleição que exerce papel de referendo sobre os rumos do país. Segundo pesquisas de boca de urna divulgadas ao fim da votação, o presidente ultraconservador, Andrzej Duda, tem uma leve vantagem sobre seu concorrente, o centrista Rafał Trzaskowski, mas a diferença está dentro da margem de erro, indicando um empate técnico.

O cenário confirma as previsões que institutos de pesquisa mostravam nas últimas semanas: Duda e Trzaskowski, prefeito de Varsóvia, travam a disputa eleitoral mais acirrada da Polônia pós-comunista. De acordo com as pesquisas de boca de urna, o presidente recebeu 50,4% dos votos, contra 49,6% de seu adversário. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

O comparecimento nas eleições polonesas foi de 68,9%, um recorde para o país e bem acima dos 47,8% registrados no primeiro turno. O alto comparecimento é reflexo da importância da eleição, vista como um referendo sobre o futuro da Polônia.

Reeleger o presidente significa dar continuidade ao seu projeto ultraconservador eurocético e às reformas que o põem em desacordo com os valores democráticos e multiculturais. Uma vitória de seu concorrente, por sua vez, seria o triunfo de uma Polônia pró-Europa, com medidas de apoio ao meio ambiente e contrária à discriminação da população LGBT.

Duda saiu na frente no primeiro turno, mas obteve apenas 43,5% dos votos, ficando aquém dos 50% necessários para liquidar a disputa em uma só rodada. Trzaskowski, eleito para governar a capital polonesa em 2018, teve 30,5% dos votos, mas obteve o apoio da maior parte dos eleitores que optaram por um dos outros 9 candidatos no primeiro turno.

Com 38 milhões de habitantes, a nação ex-soviética mais populosa da União Europeia, vinha sendo elogiada nas últimas décadas por sua próspera transição democrática. Isso começou a mudar em 2015, quando Duda e seu partido, o Lei e Justiça (PiS), chegaram ao poder.

Liderado por Jarosław Kaczyski — ex-premier, atual presidente do partido e líder de fato do país —, o PiS transformou a TV estatal em um veículo de propaganda do governo. Promoveu uma reforma judicial denunciada na UE, restringiu a liberdade de expressão e começou uma série de julgamentos contra opositores políticos.

De acordo com o sistema semipresidencialista da Polônia, o presidente depende do Parlamento para governar, e não tem a capacidade de impor a sua própria agenda. Detém, entretanto, o poder de veto.

Se eleito, Trzaskowski poria fim na plataforma do PiS, já que o partido precisaria ter mais cadeiras no Parlamento para anular os vetos presidenciais. Filho de um famoso pianista de jazz, o político fala cinco idiomas e abraçou o descontentamento geral com um grito de guerra: “Basta, já tivemos o suficiente!”, popular entre o eleitorado urbano e escolarizado.

A reeleição de Duda, por sua vez, daria sinal verde para o aprofundamento de mudança antidemocráticas que incluiriam a redução do poder de governantes locais e o acirramento do controle sobre a Corte Constitucional. Teme-se que o país possa seguir no caminho da Hungria de Viktor Orbán em uma chamada “democracia iliberal”.

No início da campanha Duda baseava sua campanha na na imagem de um gestor competente, com forte desempenho na economia e na política externa, isso mudou nos últimos meses. No início de maio, sua campanha foi prejudicada quando as medidas para combater o coronavírus puseram a Polônia no caminho de sua primeira recessão econômica em três décadas.

O presidente voltou-se então para as velhas táticas conhecidas do partido quando sua popularidade caiu, incluindo atacar gays, imigrantes e se aproximar de Donald Trump em uma visita à Casa Branca, dias antes da votação. A mudança ganhou mais força quando Trzaskowski foi confirmado como seu opositor, substituindo incolor Małgorzata Kidawa-Błoska.

Com uma base provinciana e tradicionalista, Duda adotou uma retórica dura contra o que ele chama de “ideologia LGBT” que seria “pior do que o bolchevismo” e ameaçaria os valores católicos conservadores da Polônia. Entre, propôs proibir a adoção de crianças por casais gays, criticou as vacinas obrigatórias e atacou a Alemanha. Na última sexta, a TV pública da Polônia, que ele controla, foi denunciada por seu papel “odioso” contra os judeus.