GUERRA

Bombardeios de Israel atingem abrigos para civis e até escolas em Gaza, diz ONU

O governo de Israel deu 24 horas para a população de Gaza sair de alguns bairros, anunciando uma resposta sem precedentes ao grupo terrorista

Os impactos da ampla contraofensiva de Israel na Faixa de Gaza, em resposta aos ataques do Hamas, têm ido muito além dos QGs do grupo terrorista. De acordo com a ONU, 18 instalações da agência responsável por atender a população palestina foram destruídos, total ou parcialmente, com os bombardeios israelenses — incluindo quatro escolas que estão servindo de abrigo. Moradores informaram ao New York Times na terça-feira que locais vistos como seguros no passado, incluindo mesquitas e hospitais, agora estão em ruínas.

O governo de Israel deu 24 horas para a população de Gaza sair de alguns bairros, anunciando uma resposta sem precedentes ao grupo terrorista. De acordo com as autoridades palestinas, ao menos 900 pessoas foram mortas e cerca de 168 prédios tiveram suas estruturas danificadas, entre eles sete hospitais e 48 escolas, desde sábado. As Nações Unidas afirmam que os ataques aéreos israelenses danificaram também instalações de água e saneamento, afetando mais de 400 mil pessoas.

A destruição soma-se ao cerco à cidade, que teve o fornecimento de água, energia, alimentos e medicamentos interrompido por Israel em retaliação ao ataque do Hamas. Com as fronteiras fechadas, grande parte dos 2,5 milhões de habitantes que vivem no enclave se refugiaram em abrigos montados em escolas e hospitais. Segundo estimativas da ONU, 187,5 mil palestinos se deslocaram internamente desde o início dos confrontos e 137 mil deles estão nas mais de 80 escolas administradas pela organização.

— O que eles estão fazendo não deveria ser permitido — disse ao New York Times uma mulher abrigada no Hospital al-Shifa, que não informou seu nome completo.

Ela relata ter fugido para o hospital com seu bebê de uma semana no colo depois que um ataque aéreo atingiu a casa deles no norte de Gaza, perto da fronteira com Israel. Ela e 19 membros de sua família estavam abrigados há três dias numa sala em uma parte do hospital que está em construção. A eles se juntaram muitos outros que fugiram dos ataques e dormiram nos corredores ou em pátios externos.

Nesta terça-feira, no necrotério do Hospital al-Shifa, uma mulher de 38 anos aguardava, com outros membros da família, para levar o corpo de sua sobrinha e de suas duas filhas pequenas. Na segunda, as três foram mortas quando um ataque aéreo atingiu sua casa e elas foram esmagadas sob os escombros.

— Sem aviso — afirmou a mulher.

O tenente-coronel do Exército israelense, Richard Hecht, afirmou ao New York Times que a Força Aérea de Israel estava “muito sobrecarregada” para disparar ataques de advertência, usados com frequência em conflitos anteriores em Gaza para incentivar os civis a deixarem áreas antes que fossem atingidas por mísseis de alto alcance.

Autoridades israelenses enviaram mensagens de texto para números de telefone palestinos em uma área específica na noite de sábado e publicaram nas mídias sociais sobre outros locais a serem bombardeados. Moradores de alguns prédios altos também receberam alertas antes que os ataques aéreos os destruíssem, mas, fora isso, houve poucos avisos, disseram locais ao New York Times.

A situação tende a ficar ainda mais alarmante com a interrupção dos serviços de telefonia e internet na maior parte de Gaza, após um ataque israelense ter atingido o prédio da Companhia de Telecomunicações Palestina, no centro da cidade, na segunda.

Em entrevista à al-Jazeera, o comerciante Jamal al-Zinati contou que está em estado de choque depois de ver seu bairro todo em ruínas.

— Quando saímos correndo pela porta, tudo o que pensamos foi que Israel provavelmente só nos ameaçaria para que fôssemos embora e colocasse medo em nossos corações. Eu não acreditava que eles fariam um ataque aéreo em toda a área e a deixariam em ruínas.

A destruição atingiu sua casa, onde recorda ter vivido lembranças felizes com sua família.

— Era onde vivíamos felizes, comemorávamos aniversários e construíamos sonhos. Agora, não é nada além de escombros — ele sussurra, com lágrimas nos olhos. — Fugimos para uma escola próxima em busca de segurança, mas estamos amontoados aqui com centenas de outras pessoas. Não há espaço, e nossos filhos choram até dormir todas as noites.

Aseel, outra moradora desabrigada, também compartilhou seu medo.

— Não conseguimos entender por que as escolas, onde pessoas inocentes estão buscando refúgio, estão sendo bombardeadas — disse à al-Jazeera.