Boric defende reação conjunta da América Latina se houver golpe no Brasil
Em entrevista à Time, presidente chileno também afirmou que sociedade civil brasileira deu um 'sinal poderoso' com a Carta em defesa da Democracia
Criticado pelo presidente brasileiro no último domingo, o presidente do Chile, Gabriel Boric, afirmou que a América Latina teria de “reagir em conjunto” para impedir uma eventual tentativa de golpe de Jair Bolsonaro nas eleições de outubro. Capa da nova edição da revista americana Time, que o define como “a jovem guarda” por ser o presidente mais jovem a liderar seu país, o chileno, de 36 anos, foi questionado sobre o que faria para apoiar a democracia brasileira caso Bolsonaro não aceite o resultado das eleições.
“Se houver uma tentativa tal como aconteceu, por exemplo, na Bolívia, onde se denunciou uma fraude que não existia e se terminou validando um golpe de Estado, a América Latina terá de reagir em conjunto para colaborar para impedi-lo”, disse na longa entrevista.
O presidente do Chile, no entanto, afirmou que a sociedade civil brasileira deu um “sinal poderoso” com a Carta em defesa da Democracia assinada por mais de 1 milhão de pessoas nas últimas semanas.
Com 36 anos de idade, Boric preside seu país desde março passado e foi alvo de Bolsonaro no debate presidencial do último domingo. Nas declarações finais, Bolsonaro criticou vários dirigentes sul-americanos de esquerda, buscando-os associar ao ex-presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Disse então que “Lula apoiou o presidente do Chile também, o mesmo que praticava atos de tacar fogo em metrôs lá no Chile”. Ao contrário do que diz o presidente brasileiro, o líder chileno não participou da destruição de patrimônio público.
Em resposta, na segunda-feira a chanceler chilena, Antonia Urrejola, afirmou que as declarações foram “gravíssimas” e o governo convocou no embaixador brasileiro em Santiago, Paulo Roberto Soares Pacheco, para protestar contra as declarações.
— Lamentamos que tirem proveito do contexto eleitoral para polarizarem as relações bilaterais através da desinformação e das notícias falsas — disse Urrejola, que entregou uma nota de protesto ao embaixador brasileiro em Santiago, Paulo Roberto Soares Pacheco.
Na terça, Bolsonaro voltou a criticar o colega chileno, mas evitou comentar diretamente a declaração falsa que provocou o protesto — de que Boric ateou “fogo em metrôs” —, mas disse que não deixou de “falar a verdade” e atacou a proposta de nova Constituição chilena.
No debate, Bolsonaro referia-se às manifestações de outubro de 2019 no Chile, que começaram com reclamações sobre o aumento do preço do metrô, mas ganharam demandas sociais mais amplas. Na época, Boric era deputado e atuou como um dos mediadores entre os manifestantes e o Legislativo para que houvesse uma saída institucional para a crise, com a convocação pelo Congresso do referendo em que os chilenos votaram, em 2020, pela convocação de uma Constituinte.
A Constituição elaborada pela Convenção Constitucional, à que Bolsonaro se referiu, será submetida a um plebiscito no próximo domingo. As pesquisas indicam que ela será rejeitada, mas há ainda um grande percentual de indecisos. Boric não participou do processo de elaboração do texto, mas a aprovação da nova Constituição, que substituiria a herdada da ditadura de Augusto Pinochet, é considerada fundamental para o sucesso de suas propostas de governo.