Brasileiros em Lisboa usam flores em ato contra xenofobia
Contra pedras, flores. Foi assim que 70 estudantes brasileiros se manifestaram após a instalação de…
Contra pedras, flores. Foi assim que 70 estudantes brasileiros se manifestaram após a instalação de uma caixa de pedras com os dizeres “grátis para atirar em um zuca [maneira ofensiva de se referir a brasileiros]”, por um grupo de portugueses da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa .
Os brasileiros disseram que a manifestação desta quinta (2) quer “deixar claro que a caixa com pedras é um ato xenófobo, e não uma piada”.
“Queríamos dizer que se os portugueses nos atiram pedras, nós revidamos com flores”, afirma Flora Almeida, uma das organizadoras do ato. “Mas também sabemos que a xenofobia vem apenas de uma minoria em Portugal.”
Em solidariedade, também houve manifestações com flores na Universidade do Porto e na Universidade Beira Interior, na cidade de Covilha.
Em nota, a direção da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa disse que a caixa de pedras não reflete o “espírito da instituição” e abriu um processo de inquérito. A diretoria organizou uma reunião com o grupo Tertúlia Libertas, autor da caixa, que prometeu retratação.
Junto ao Núcleo de Estudantes Luso-brasileiros (NELB), da Faculdade de Direito, foi aberta também uma ouvidoria para receber denúncias de abusos e de xenofobia.
O Tertúlia Libertas divulgou dois comunicados afirmando que sua intenção era satirizar o processo de acesso dos estudantes à universidade e não discriminar brasileiros.
“Nós não somos discriminatórios, somos igualitários, porque gozamos com o mesmo despudor, maioria ou minoria. Isto não é sobre brasileiros, é sobre humor no caos”, afirmou o grupo por meio do jornal O Berro, produzido pelo movimento e classificado por ele como satírico.
“Apedrejem-nos a nós, mas então, apedrejem-nos por tudo. Por antissemitismo quando sugerimos viagens a finalistas à Auschwitz, por sugerir atirar pedras a mulheres há dois anos, por enforcar um coelho para receber o, à altura, primeiro-ministro Passos Coelho […] a realidade é que se uma piada secundária gerou tanto alarido é porque já estava na altura de se falar sobre o tema de maneira séria.”
O grupo disse ainda que não ultrapassou os limites da liberdade de expressão, mas que compreende que “devido à descontextualização e a interpretações errôneas acabou ferindo suscetibilidades.”
Os brasileiros criticaram os comunicados. “Apesar de recebermos muito apoio da direção, o comunicado do Tertúlias foi uma justificativa, e não um pedido de desculpas”, diz Claudio Cardona, diretor de comunicação do NELB.
Estudantes do Brasil lideram com folga a lista de nacionalidades mais presentes no ensino superior português.
São mais de 12,2 mil alunos: quase a mesma quantidade que têm, somados, os outros quatro países do top 5 -Angola, Espanha, Cabo Verde e Itália.