ESTADOS UNIDOS

Chefe militar dos EUA nega ter driblado autoridade de Trump em contato com a China

Presidente Joe Biden diz ter 'total confiança' no general Mark Milley; republicanos pedem que ele seja demitido

Chefe militar dos EUA nega ter driblado autoridade de Trump em contato com a China

Chefe do Estado-Maior dos Estados Unidos, o general Mark Milley refutou nesta quarta-feira (15) a ideia de que tenha extrapolado sua autoridade legal quando, por duas vezes, conversou com autoridades militares chinesas para afirmar que os EUA não planejavam um ataque contra o país asiático.

Por meio de um porta-voz, o chefe militar americano disse que apenas atuou para assegurar uma estabilidade estratégica, e não para assumir atribuições que, em sua origem, caberiam ao então presidente, o republicano Donald Trump.

A revelação das duas conversas de Milley com Li Zuocheng, chefe do Estado-Maior chinês, nos meses de outubro e janeiro, é feita no livro “Peril” (perigo), dos jornalistas Bob Woodward e Robert Costa, que tem lançamento previsto para a próxima semana. Na terça (14), o jornal americano The Washington Post, para o qual trabalham os repórteres, adiantou trechos do conteúdo.

De acordo com a apuração feita para o material, que envolveu mais de 200 entrevistas, Milley tentou apaziguar a relação com os chineses e chegou a revisar procedimentos para o lançamento de armas nucleares, de modo a assegurar que uma decisão do tipo, ainda que caiba ao presidente, tivesse de passar por ele. O general afirmava temer uma deterioração do estado mental de Trump.

Porta-voz de Milley, o coronel Dave Butler disse em comunicado que “o chefe do Estado-Maior se comunica regularmente com os chefes de Defesa em todo o mundo, inclusive com a China e a Rússia”. “Essas conversas permanecem vitais para melhorar a cooperação mútua dos interesses de segurança nacional dos EUA, reduzir as tensões, fornecer clareza e evitar consequências ou conflitos não intencionais.”

Butler disse ainda que todas as ligações de Milley para seus homólogos, incluindo as relatadas no livro, são coordenadas com o Departamento de Defesa e as agências americanas de inteligência e que o general “continua a agir dentro de sua autoridade legal e seu juramento à Constituição.”

Em comunicado divulgado na terça, Trump chamou a história revelada pelos repórteres do Washington Post de “fabricada” e disse que, caso fosse verdade, o general Milley deveria ser julgado por traição. “Só para constar, nunca pensei em atacar a China”, emendou. Os bastidores do governo do republicano são tema de outros dois livros do jornalista Bob Woodward —“Fear” (medo) e “Rage” (raiva).

Milley foi nomeado por Trump para a chefia do Estado-Maior em 2018, mas começou a ser alvo de críticas do republicano, assim como outros funcionários do alto escalão, após as eleições que alçaram Joe Biden à Presidência, em novembro de 2020.

Após as revelações do livro, o senador republicano Marco Rubio pediu que o general fosse demitido, mas a demanda recebeu baixo apoio dos demais parlamentares, em especial os democratas. Em carta endereçada ao presidente Joe Biden, o senador alegou que as ações relatadas mostram que Milley realizou “uma traição ao vazar informações confidenciais para o Partido Comunista da China“.