Em gravações, irmã de Trump descreve presidente como ‘mentiroso’ e ‘sem princípios’
Áudios, gravados por sobrinha de Trump que declarou publicamente apoio a Biden, foram obtidos com exclusividade pelo Washington Post
A irmã mais velha do presidente americano, Donald Trump, a juíza federal aposentada Maryanne Trump Barry, o descreveu numa série de gravações feita secretamente por sua sobrinha Mary L. Trump, entre 2018 e 2019, como um “mentiroso”, um homem “cruel”, que “não tem princípios”. As gravações foram obtidas com exclusividade pelo jornal Washington Post, que as publicou on-line neste sábado à noite.
Nos áudios, é possível ouvir Maryanne Barry, de 81 anos, criticando fortemente a atuação de seu irmão de 77 anos como presidente. “Seus malditos tuítes e as mentiras, ai meu Deus”, diz ela em uma das gravações. “Você sabe que ele distorce os fatos. A falta de preparação. A mentira…”
Foram mais de 15 horas de gravações feitas sem que Barry soubesse a partir de conversas cara a cara durante mais de um ano entre tia e sobrinha.
A sobrinha de Trump é a mesma que escreveu o recém-lançado livro “Demais e nunca o bastante: como minha família criou o homem mais perigoso do mundo” (em tradução livre), que descreve uma saga multigeracional de ganância, traição e tensão interna.
A obra procura explicar como a experiência do presidente Trump em uma das realidades mais ricas e infames de Nova York — a dos impérios imobiliários — ajudou-o a desenvolver o que a sobrinha chamou de “comportamentos distorcidos”: atributos como ver outras pessoas em “termos monetários” e praticar a “trapaça como um modo de vida”. Mary Trump já declarou publicamente seu apoio ao rival de Trump, o democrata Joe Biden.
Maryanne Trump Barry nunca falou publicamente de suas desavenças com o irmão. Mas os áudios parecem revelar que a discórdia data dos anos 1980, quando Maryanne pediu ao irmão para que este acionasse seus contatos para facilitar sua nomeação como juíza federal pelo então presidente Ronald Reagan. Depois, Trump teria tentado levar os créditos pela vida profissional bem-sucedida de Barry, dizendo que ela não seria nada sem ele. “É a falsidade de tudo. É a falsidade e a crueldade. Donald é cruel”, disse Barry em um dos áudios.
Nas gravações, também fica claro que Maryanne Trump Barry é a fonte de uma das informações mais explosivas do livro da sobrinha Mary, que é filha de outro irmão de Trump, Frederick Trump III, morto no final dos anos 1970. Segundo essa revelação, o atual ocupante da Casa Branca teria ingressado na Universidade da Pensilvânia depois de pedir a outra pessoa que fizesse o exame vestibular para ele.
Em outra gravação noticiada pelo Post, mas cujo áudio não está disponível, Maryanne Trump Barry teria criticado a política de Trump de separar famílias de imigrantes, em 2018. “Tudo o que ele quer é apelar para sua base. Ele não tem princípios. Nenhum, nenhum. Meu Deus, se você é uma pessoa religiosa você quer ajudar as pessoas, e não fazer isso”, ela teria dito.
Em declaração divulgada por escrito pela Casa Branca, Trump negou as acusações da irmã e se referiu à morte de outro irmão, Robert Trump, na semana passada. “Todo dia é alguma coisa, quem acredita?”, disse o presidente. “Eu sinto falta do meu irmão, e vou continuar a trabalhar duro pelo povo americano. Nem todo mundo concorda, mas os resultados são óbvios”, afirmou.
A revelação dos áudios chega em um momento crítico para o presidente americano, às vésperas da Convenção Nacional Republicana, que começa nesta segunda, a pouco mais de dois meses das eleições e logo após a Convenção Nacional do Partido Democrata, encerrada no último dia 20. Os adversários democratas procuraram definir a eleição de 2020 menos como uma luta ideológica do que como uma luta pela ética, com a escolha posta em termos de “luz” versus as “trevas” que Trump representaria.
Na convenção, Biden foi exaltado como uma figura humana e solidária, gente como a gente, o oposto do atual presidente.