Entenda o que é Otan e as preocupações de Putin em relação ao ingresso da Ucrânia
Ingresso de Ucrânia na “simbolizaria a possibilidade de instalação de armamentos no quintal ao lado” da Rússia, diz geógrafa
Entre os motivos da Rússia invadir a Ucrânia – a guerra ocorre desde o último dia 24 – estão a aproximação da Ucrânia com o Ocidente, por meio da possibilidade do país fazer parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e da União Europeia; bem como a própria expansão da Otan no Leste Europeu – que além da Ucrânia, também adicionaria a Geórgia como membro.
Mas afinal, o que é a Otan e o que significa essa aproximação da Ucrânia e o alerta da Rússia? A professora Renata Dias Dutra, graduada e mestra em Geografia, além de doutoranda no assunto pela UFG, dá uma luz sobre a situação.
Ela explica que a Otan é um tratado militar, intragovernamental, ou seja, que se organiza com o acordo de vários governos, com intenção de fortificação militar e apoio mútuo, criado e liderado pelos Estados Unidos em 1949, tendo a priori 12 países (hoje 30), que se uniram com o intuito de conter o avanço da União Soviética, durante a chamada Guerra Fria.
A União Soviética, destaca-se, se dissolveu em 1991, enquanto a Guerra Fria acabou em 1989. Então, qual seria o sentido da permanência, é o que questionado o Mais Goiás a Renata. “Os Estados Unidos e os demais membros alegam que a permanência da Otan se deve a vigilância e segurança de seus países-membros, além de agir com diplomacia. Mas a Otan está sempre preparando o ‘grupão’, em caso de necessidade de conflito armado.”
Inclusive, ela explica que no período pós-União Soviética e pós-Guerra Fria, o tratado passou a agir em formato de policiamento e diplomacia, mediando conflitos. “Mas não deixa de estar organizada e fortificada em caso de necessidade de conflito bélico, ou seja guerra”, pontua a docente.
E completa: “As ações têm sido de intervenção, como no caso de Kosovo em 1999, onde ela atuou para conter os ataques da Sérvia e ajudou na promoção da estabilidade política naquela região. Porém, age também e relação à decisões drásticas como o apoio à invasão do Afeganistão pelos Estados Unidos.”
Nesse sentido, um país aderir à Otan significa reforçar a aliança com os países-membros, principalmente os Estados Unidos. “Com isso, dá-se então a impressão de escolha de um lado.”
E por que afeta a Rússia?
Segundo ela, a Rússia entende a entrada da Ucrânia para a Otan como uma ameaça, visto que se trata de um país vizinho, que foi, inclusive, parte do território russo. Além disso, o ingresso “simbolizaria a possibilidade de instalação de armamentos no quintal ao lado”.
Já o professor e historiador José Luciano vê a questão – do ingresso da Ucrânia na Otan – como aumento da zona de influência norte americana sobre o globo. “Mas com o armamento nuclear agora fazendo parte do arsenal de inúmeras nações, não é tão simples os EUA invadirem qualquer país.”
Assim, para ele, essa zona de influência não funciona somente do ponto de vista militar, mas também político, já que permite aos EUA articularem ações e conflitos em regiões anteriormente pertencentes a antiga União Soviética, além de permitir expandir sua vigilância sobre outros territórios.
“Basicamente desde os anos 90 a OTAN é utilizada como braço armado norte americano, estando envolvida em conflitos como, Afeganistão, Kosovo, Kwuait, na guerra da Bósnia. Além disso, esteve envolvida em missões no norte da África, interferindo no período da primavera árabe, a exemplo da Líbia.”
Mais sobre a reação russa
Mas veja bem, estes não são os únicos motivos da invasão. Existem, ainda, os conflitos separatistas no leste da Ucrânia, especialmente nas províncias de Donetsk e Luhansk, as quais o líder russo Vladimir Putin reconheceu como independentes; além das ambições expansionistas do próprio presidente que busca aumentar o pder de influência na região.
Vale citar, as tensões entre Rússia e Ucrânia ocorrem há meses, com a possibilidade do segundo país entrar na Otan – o pacto foi assinado em 1949 com objetivo de impedir o avanço da influência da então União Soviética sobre os países da Europa Ocidental.
Na no último 24 de fevereiro, Vladimir Putin permitiu uma operação militar no leste da Ucrânia, com bombardeios, próximo às regiões separatistas de Luhansk e Donetsk.
Mas e a Otan nisso tudo?
Em relação a Otan, a organização já afirmou, por meio do seu secretário-geral da aliança militar, Jens Stoltenber, que não vai entrar em território ucraniano por receio de uma escalada da violência. A fala foi dada nesta sexta.
“Nós já deixamos claro que não vamos entrar na Ucrânia, nem no espaço aéreo, nem em solo. Se nós fizéssemos uma zona de exclusão aérea, teríamos que mandar aviões nossos e derrubar aviões russos. Nós entendemos o desespero [da Ucrânia] mas também acreditamos que se fizéssemos isso, levaríamos a uma guerra total na Europa, envolvendo muito mais países e causando muito mais sofrimento. É muito dolorosa essa decisão. Nós impusemos sanções severas e aumentamos o apoio, mas não podemos participar diretamente do conflito”, declarou.
A posição vem após a Ucrânia cobrar uma zona de exclusão aérea onde aviões de outros países pudessem ajudar o exército ucraniano na defesa do país, mas os membros da aliança militar temem que essa medida possa gerar uma guerra nuclear. Stolnenberg declarou: “Não devemos ter aviões no espaço aéreo nem tropas na Ucrânia.”
Segundo ele, a Otan defende uma solução pacífica e diplomática para o conflito. A organização espera que Putin aceite conversar para reduzir as tensões.
LEIA MAIS:
Rússia e Ucrânia vão fazer corredores para retirar civis das áreas de conflito