CRISE MIGRATÓRIA

Estados Unidos deportam 30 crianças brasileiras para o Haiti

Mais de 3,5 mil pessoas já foram deportadas para o país nos últimos dias.

Estados Unidos deportam 30 crianças brasileiras para o Haiti (Foto ilustrativa: Reprodução - Agência Brasil)

Os Estados Unidos da América (EUA) deportaram 30 crianças brasileiras para o Haiti em meio à uma grave crise de migração. Além das crianças, cerca de 15 mil haitianos foram até à cidade texana de Del Rio, na fronteira com o México, nos últimos dias.

As crianças brasileiras têm, em sua maioria, até três anos de idade e estavam acompanhadas pelos pais haitianos. Juntos, as famílias saíram do Brasil e atravessaram as Américas do Sul e Central até chegarem à divisa entre México e EUA há pouco mais de uma semana.

Além dos 30 menores de idade brasileiros deportados, 182 crianças chilenas estão na mesma condição.

Desde que a crise estourou, pelo menos 3,5 mil pessoas tiveram que voltar em voos americanos para Porto Príncipe, a capital haitiana. Informações são da Organização Internacional para as Migrações (OIM).

Sobre as crianças brasileiras

“As crianças brasileiras não apresentavam qualquer problema maior. Caso contrário, seriam encaminhadas para assistência específica”, afirmou Giuseppe Loprete, chefe da missão da OIM.

Segundo Loprete, por terem pais haitianos, as crianças são também consideradas haitianas segundo as leis do país caribenho, embora não tivessem documentos para comprovar essa nacionalidade.

Na Constituição Federal brasileira, por terem nascido em território do Brasil, mesmo que de pais estrangeiros, os filhos dos haitianos são também considerados brasileiros natos.

Por isso, as crianças detinham apenas documentação brasileira ao serem encontrados e deportados pelos americanos.

Entenda o contexto da crise migratório

Em 2021, o Haiti enfrentou o assassinato do presidente do país, Jovenel Moïse, que aprofundou a instabilidade política. Além disso, um terremoto deixou mais de duas mil pessoas mortas.

Nesse contexto, a diáspora haitiana, tanto do próprio país quanto de outros na América Latina, se moveu para os EUA. Contribuiu para o fluxo a percepção de que a nova gestão democrata, de Joe Biden, teria uma abordagem mais simpática a migrantes.

O número de haitianos localizados por agentes americanos na fronteira (29,6 mil) neste ano, com dados ainda incompletos, já é 6,5 vezes maior do que o total de 2020.

Crise política nos EUA

O Governo de Joe Biden prometia uma abordagem ‘humana’ aos imigrantes. Porém, recorreu aos mesmos instrumentos utilizados pelo ex-presidente Donald Trump para deportar rapidamente o maior contingente possível.

O enviado especial dos EUA para o Haiti, Daniel Foote, renunciou ao cargo em protesto contra o tratamento dispensado aos haitianos.

Em uma carta ele disse ainda que “não se associaria à decisão desumana e contraproducente dos Estados Unidos de deportar milhares de refugiados haitianos”.

EUA pediu ajuda ao Brasil para conter crise migratória

Em meio ao turbilhão, o secretário de Estado dos EUA Antony Blinken pediu ao chanceler brasileiro Carlos França, na semana passada, que o Brasil acolhesse parte dos haitianos que estavam na fronteira americana.

No entanto, o governo brasileiro, segundo um integrante do Itamaraty que esteve no encontro, recusou o pedido.

“Cada um que cuide do seu Haiti”, descreveu esse diplomata à reportagem, sobre o teor da resposta do Brasil aos americanos.

Segundo a lei brasileira, imigrantes que tenham recebido visto humanitário e ainda assim tenham deixado o país, perdem o direito a requerer novamente esse status especial.

 

*Informações do G1 e BBC News