EUA aceleram construção de novo bombardeiro invisível contra China
Em meio à Guerra Fria 2.0, Força Aérea fala em preocupação com capacidade nuclear de Pequim
Preocupados com o avanço da China no campo das armas nucleares, os Estados Unidos revelaram ter acelerado a construção de seu novo bombardeiro estratégico com tecnologia furtiva ao radar —os populares aviões invisíveis.
“Enquanto eu falo, há cinco B-21 sendo construídos”, afirmou o secretário da Força Aérea, Frank Kendall, durante conferência na segunda (20). Até então, só eram conhecidos dois protótipos em produçãoo pela fabricante Northrop Grumman, na Califórnia.
O B-21 Raider é uma asa voadora subsônica capaz de lançar munições convencionais ou nucleares, com elementos que a tornam de difícil detecção pelos inimigos —daí a fama de uma invisibilidade que não existe na realidade.
Projeto iniciado há quatro anos, ele lembra muito o icônico B-2 Spirit, cujas 20 unidades compõem a frota de bombardeiros estratégicos americanos com 76 venerandos B-52 Stratofortress e 62 B-1B Lancer —17 dos quais serão aposentados para modernizar os restantes.
Mas é um avião novo, segundo as poucas informações disponíveis. É altamente inusual que um programa neste estágio tenha mais do que dois aparelhos em construção —costuma-se ter um para testes em voo e outro, para testagem de sistemas.
“Todos os programas têm riscos e isso é verdade para o B-21, mas ao menos a esta altura ele está fazendo um bom progresso”, disse Kendall, que ocupa o principal cargo civil na Força Aérea, respondendo ao secretário de Defesa, Lloyd Austin.
EUA aceleram construção de novo bombardeiro, que substituirá B-2 e B-1B
Nos planos da Força Aérea, o B-21 substituirá com os B-2 e os B-1B, este último um supersônico sem capacidade furtiva que faz menos sentido em ambientes de alta saturação de defesa antiaérea modernos.
Para tanto, os militares querem 100 aviões a US$ 600 milhões cada —uma conta salgada, mas menor do que os quase US$ 2 bilhões de cada B-2, que de resto são caríssimos para serem operados.
A pressa americana, arriscada como admitiu Kendall, não foi explicitada pelo secretário. Mas a indicação estava toda no resto de sua fala na conferência da Associação da Força Aérea, em Maryland.
“Vocês vão se cansar de me ouvir falar sobre a China e a ameaça galopante que nós enfrentamos”, disse. Sua preocupação central foi com o avanço em equipamentos, como o bombardeiro furtivo H-20, e principalmente pela expansão percebida das capacidades nucleares da ditadura comunista.
“Se eles continuarem no caminho no qual parecem estar e aumentar substancialmente sua força de ICBMs, terão capacidade ‘de facto’ para um primeiro ataque”, afirmou.
ICBM é a sigla inglesa para míssil balístico intercontinental, os monstrengos que carregam as chamadas armas nucleares estratégicas, que visam ganhar guerras ao obliterar o inimigo —forças táticas são de uso pontual, para impedir avanços de tropas, por exemplo.
Nos dois últimos meses, imagens de satélite analisadas por diversos especialistas mostraram que os chineses estão em franca ampliação de sítios com silos para o lançamento de tais armas.
Há dúvidas se a decuplicação do número de silos será de fato acompanhada de mais mísseis ou se é uma tática diversionista, já que esse tipo de instalação é um alvo estático para outras armas nucleares.
Além disso, a doutrina chinesa é clara contra a ideia de um primeiro ataque nuclear, até porque tem hoje uma quantidade de bombas suficiente para fins dissuasórios: 320 bombas, ante cinco vezes mais armas operacionais de russos e americanos.
Mas a revelação chamou a atenção. Os EUA, afinal de contas, estão em plena Guerra Fria 2.0 com a China, como os discurso do presidente Joe Biden e do líder Xi Jinping nas Nações Unidas na terça (21) demonstraram.
Na semana passada, Biden havia dado materialidade à sua retórica agressiva ante Pequim ao anunciar um pacto militar com o Reino Unido e a Austrália que irá armar a ilha-continente com submarinos de propulsão nuclear, o que gerou protestos na China e na França —que perdeu um contrato multibilionário de venda de embarcações diesel-elétricas para Camberra.
Com a inusitada admissão de que há mais B-21 no forno do que o anunciado, a China talvez acelere o desenvolvimento do seu H-20, também uma asa voadora subsônica, assim como o russo PAK-DA, ainda em projeto.
Nenhum desses aviões viu a luz ainda. O B-21 deverá ser o primeiro, saindo do hangar em dezembro e voando pela primeira vez no ano que vem, para introdução até meados da década, se o plano der certo.