REINO UNIDO

Governo de Boris Johnson afunda em crise após renúncia de dois dos principais ministros

Chefes do Tesouro e da Saúde pedem demissão e acusam primeiro-ministro britânico de perder capacidade de liderança

Governo de Boris Johnson afundou em crise após renúncia de dois dos principais ministros (Foto: Redes sociais)

Após meses de escândalos, a liderança do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, se vê sob séria ameaça com a renúncia de dois de seus mais importantes ministros.

O ministro do Tesouro, Rishi Sunak, e o ministro da Saúde, Sajid Javid, anunciaram que pediram demissão nesta terça-feira, deixando os cargos com críticas públicas ao premier e acusações de que ele perdeu a capacidade de liderança sobre o país.

Sunak disse que “o público espera, com razão, que o governo seja conduzido de forma adequada, competente e séria”, e que chegou à conclusão de que “não podemos continuar assim”.

“Reconheço que este pode ser meu último cargo ministerial, mas acredito que vale a pena lutar por esses padrões e é por isso que estou me demitindo”, disse ele em carta direcionada a Boris, publicada no Twitter.

Ele acrescentou que suas “abordagens são fundamentalmente diferentes demais” para continuarem trabalhando juntos e acusou o premier de vender narrativas “boas demais para serem verdade” para o público.

Já Javid afirmou que, após uma série de escândalos,”não poderia mais continuar em sã consciência”.

Segundo ele, muitos parlamentares e a população britânica perderam a confiança de que Boris pode governar de acordo com o interesse nacional.

Em sua carta de demissão, que também postou no Twitter, Javid também criticou o primeiro-ministro por não reagir com “humildade” depois de vencer por pouco um recente voto de desconfiança.

“Lamento dizer, no entanto, que está claro para mim que esta situação não mudará sob sua liderança – e, portanto, você também perdeu minha confiança”, disse Javid na carta.

Em junho, Boris obteve o apoio da maioria dos parlamentares conservadores em uma votação de desconfiança sobre sua permanência no cargo, conquistando 59% dos votos favoráveis a si.

O percentual significa que Boris está em teoria imune contra outro desafio do Partido Conservador até junho do ano que vem. A sigla pode, no entanto, mudar a regra de um ano de proteção, ou simplesmente pressioná-lo até que sua permanência se torne insustentável.

Tanto Sunak quanto Javid são cotados para substituírem Boris na liderança conservadora. Outra possibilidade é a dissolução do Parlamento, com a convocação de eleições antecipadas.

As duas demissões aconteceram minutos depois de o primeiro-ministro pedir desculpas por indicar o deputado Chris Pincher para um cargo no governo, mesmo tendo sido avisado de denúncias de comportamento sexual impróprio em 2019.

Pincher, que tinha o cargo de vice-chefe do governo no Parlamento e está suspenso desde a semana passada, atualmente enfrenta seis acusações de comportamento sexual impróprio, inclusive a bolinação de homens.

O primeiro-ministro admitiu que cometeu um “erro grave” ao não ter tomado nenhuma ação mesmo sendo avisado sobre uma denúncia.

Outros conservadores, como o vice-presidente do partido, Bim Afolami, renunciaram após a dupla de ministros, sugerindo que possa acontecer uma debandada em massa.

No entanto, segundo a BBC, vários dos mais importantes nomes do gabinete, como a ministra de Relações Exteriores, Liz Truss, o ministro de Defesa, Ben Wallece, e o ministro dos Negócios, Kwasi Kwarteng, ainda apoiam Boris.

O líder trabalhista, Keir Starmer, disse que os ministros devem agir no interesse nacional para tirar Johnson do cargo, instando-os a pedirem demissão ou a forçarem Boris a fazê-lo.

— Eles sabem como ele é — disse Keir. — Ele disse que é psicologicamente incapaz de mudar, e, portanto, eles têm que fazer o que é do interesse nacional e tirá-lo.

Starmer também acusou aqueles que apoiaram Boris de serem cúmplices na forma como ele desempenhou seu trabalho.

— Depois de todo o desprezo, os escândalos e o fracasso, está claro que este governo está entrando em colapso — disse ele.

Boris foi eleito com expressiva votação em 2019, com a promessa de concluir o Brexit e tirar o Reino Unido da União Europeia.

Seu governo mergulhou em crise após a revelação do escândalo “Partygate”, sobre festas realizadas no palácio de governo durante períodos de quarentena compulsória em 2020.