Governo espera impacto limitado no Brasil de crise na China
Técnicos consideram importante avaliação da OCDE de que China é capaz de absorver o choque
O governo brasileiro abriu monitoramento dos possíveis efeitos gerados pela crise da Evergrande, uma gigante do mercado imobiliário chinês que afetou o mercado financeiro ao redor do mundo. Em avaliação preliminar, a equipe econômica espera que o impacto no Brasil seja limitado.
A Evergrande, cujo passivo é estimado US$ 355 bilhões (R$ 1,89 trilhão), informou a credores na semana passada que não conseguiria cumprir os pagamentos de juros da dívida com vencimento nesta segunda-feira (20).
Técnicos do Ministério da Economia afirmam que o tema é muito delicado e ponderam que ainda é cedo para que avaliações concretas sobre os desdobramentos da crise sejam feitas.
Membros da pasta monitoram o desempenho de indicadores econômicos mais rapidamente impactados. Na bolsa de São Paulo, por exemplo, após queda significativa de 2,33% (batendo o nível mais baixo do ano) na segunda-feira, o Ibovespa passou a operar em alta nesta terça-feira (21).
A área técnica do ministério considera muito importante avaliação feita nesta terça pela economista-chefe da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), Laurence Boone. Segundo ela, a China é capaz de absorver o impacto de um eventual desfalque da companhia sem que seja gerado um efeito relevante na economia mundial.
“Achamos que a autoridade chinesa tem a capacidade fiscal e monetária para amortecer o choque”, disse em coletiva à imprensa.
Boone ressaltou que é cedo para saber os efeitos exatos do episódio, mas afirmou que o mercado financeiro chinês tem um nível de ligação menor com outros mercados do mundo. Ela ponderou que se houver uma eventual queda de demanda da China, haveria impacto na economia real dos países.
Um dos técnicos do governo ressaltou que mercados de outros países também apresentam sinais de alívio, o que foi acompanhado pelo Brasil.
Após o desencadeamento das notícias sobre a Evergrande, economistas afirmaram que a situação é grave, capaz de trazer de volta o “fantasma da crise de 2008”, como relatou a casa de análise Levante Research.
Em setembro de 2008, o banco americano Lehman Brothers quebrou ao reconhecer a insolvência de créditos imobiliários, sem receber socorro do Fed (o banco central dos EUA), o que provocou um efeito dominó de perdas em instituições financeiras pelo mundo afora.
O país é o maior importador mundial de minério de ferro, cujo preço vem sendo rebaixado devido à redução da demanda.
Ações de empresas de mineração e siderurgia brasileiras estão sendo fortemente prejudicadas, o que explica, em parte, as recentes quedas do Ibovespa.