VELÓRIO

Homenagens à rainha lotam Londres de flores, e ursinhos não são bem-vindos

Quem chega ao Green Park, no centro de Londres, percebe na hora como a exímia organização…

Quem chega ao Green Park, no centro de Londres, percebe na hora como a exímia organização britânica está em tudo que cerca o funeral da rainha Elizabeth 2ªmorta no último dia 8.

Colocar homenagens na porta do palácio de Buckingham agora está proibido –o volume foi grande demais– e o parque, que fica ao lado, virou um dos pontos oficiais da cidade para prestar tributos à monarca.

Aquilo que pode parecer detalhe –o que fazer, afinal, com flores e cartões deixados pelo público?– é, na verdade, uma operação cuidadosamente planejada, e há uma série de regras a seguir.

Os visitantes são recepcionados em uma tenda onde organizadores, com tesoura em mãos, ajudam a retirar as embalagens plásticas dos arranjos. O público entra em uma grande área cercada por grades, com entrada e saída em locais diferentes, para facilitar o fluxo. No gramado, buquês e cartões estão empilhados, e as pessoas conseguem passear entre eles. Percorrer todo o trajeto, com calma, pode levar horas.

O Royal Parks, organização que cuida dos oito parques de Londres que pertencem oficialmente à família real, incluindo o Green Park, criou um manual em seu site oficial com orientações para quem deseja levar tributos. Eles pedem que as pessoas respeitem a área demarcada, deem preferência para material orgânico e compostável, não levem balões ou ursinhos de pelúcia.

Cartões e cartas são bem-vindos –eles serão recolhidos e encaminhados à família. Velas são permitidas em um local à parte, coberto por areia para evitar incêndios. Há mapas de como chegar e informações sobre as estações de metrô mais próximas.

Segundo o Royal Parks, remover o plástico dos buquês ajuda na longevidade das flores e a agilizar o processo de compostagem das plantas que vai começar entre sete e 14 dias depois do funeral marcado para segunda-feira (19). As flores vão virar adubo que será usado nos próprios parques.

Em Windsor, a operação é parecida. Visitantes ainda podem deixar flores nas grades do castelo que foi uma das residências oficiais de Elizabeth 2ª e onde ela será enterrada. Lá, o pedido para a retirada da embalagem também é por questão de segurança. Todas as noites, as flores passam por um raio-x e são levadas para o jardim interno.

No início da semana, o grande volume de lixo plástico chamou a atenção de alguns moradores de Londres que, de forma voluntária, começaram a retirar embrulhos e separá-los para reciclagem, o que agora já é feito automaticamente pela maioria dos visitantes.

A britânica Meghan Naylor, que trabalha para o sistema de saúde publico, o NHS, foi ao parque com uma amiga e levou um buquê de girassóis. Questionada pela Folha se havia pensado na quantidade de lixo gerado pelas homenagens, disse: “Eu não havia pensado nisso, mas agora estou pensando. Quero acreditar que estão fazendo o descarte responsável de todo esse plástico.”

Em uma conversa informal com a reportagem, um funcionário do parque mostrou um caminhão que estava sendo abastecido com os embrulhos e garantiu que tudo seria reciclado.

Não há números oficiais sobre a quantidade de flores deixadas. Como elas estão sendo removidas com frequência, não serão vistas imagens como à época da morte da princesa Diana, quando buquês cobriram a entrada do palácio de Kensington, então sua residência. Estima-se que sessenta milhões de flores foram deixadas em memoriais.

De qualquer forma, a demanda dos últimos dias está tão alta que foi preciso pedir ajuda aos produtores da Turquia, que estão enviando estoques de avião para que a remessa chegue em um dia, comparado à demora de uma semana se o trajeto fosse feito em caminhões. A expectativa é o envio de mais de 1,5 milhão de flores ao Reino Unido.

De fato, há arranjos de sobra nas prateleiras dos supermercados ao redor do palácio de Buckingham, produto que deve estar entre os mais vendidos até depois do funeral.