Meio Ambiente

Inspirados por Greta, jovens brasileiros esperam ser ouvidos nas decisões da COP-26

A última reunião preparatória para a 26ª Conferência do Clima da ONU, que acontece daqui…

A última reunião preparatória para a 26ª Conferência do Clima da ONU, que acontece daqui a um mês em Glasgow, na Escócia, começou nesta quinta-feira (30) com o protagonismo inédito de jovens ativistas.

A convite do governo italiano, que hospeda a pré-COP-26 em Milão, até sábado, cerca de 400 ativistas de 190 países ficarão reunidos por dois dias na cúpula Youth4Climate, para produzir um documento com o que consideram as medidas prioritárias para a condução da crise climática.

Anunciada nesta manhã, diante dos primeiros-ministros da Itália e do Reino Unido (esse por meio de vídeo), a lista, no seu momento mais incisivo, pede a abolição da indústria de combustíveis fósseis até 2030.

Também pede a inclusão da “alfabetização climática” nos currículos escolares de forma global e transversal -não uma disciplina, mas um tema presente em todas as outras- e a garantia de representação significativa, nos governos nacionais, em processos decisivos que tenham impacto na emergência climática.

“Acredito fortemente que temos muito o que aprender com suas ideias, sugestões e liderança. E a pressão de vocês é, na verdade, muito bem-vinda. A mobilização de vocês tem sido poderosa e podem ter certeza: estamos ouvindo”, afirmou o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi.

“Os jovens estiveram na vanguarda para propor soluções positivas, exigindo justiça climática e respostas aos líderes. Precisamos que os jovens de todo o mundo continuem pedindo que escutem sua voz”, afirmou Antonio Guterres, secretário-geral da ONU, por meio de mensagem de vídeo.

No grupo de 400 jovens de 15 a 29 anos, três representam o Brasil: Eduarda Zoghbi, que faz mestrado em política energética na Universidade Columbia, nos EUA; Paloma Costa, membro do Grupo Consultivo de Jovens sobre Mudança Climática, da ONU; e Eric Marky Terena, jornalista da Mídia Índia. Eles foram selecionados por meio de um questionário, ao qual responderam cerca de 8.000 pessoas.

“Essa cúpula é diferente das outras reuniões de jovens pré-COP porque tem uma representatividade muito ampla. Realmente foram trazidos jovens do mundo todo e foram escolhidos temas muito específicos, prioritários para a juventude debater”, diz Zoghbi à reportagem.

Os debates foram concentrados em quatros temas: como ampliar representação juvenil em processos decisórios; recuperação sustentável da pandemia; engajamento de agentes não-governamentais; e ampliação da consciência sobre a crise climática. Os brasileiros estavam no último grupo.

“A minha expectativa é que o impacto [do documento na COP] seja mais consolidado, porque realmente teremos um documento legitimado”, diz Zoghbi, que tem 28 anos.

Segundo ela, interessada em questões ambientais desde os 11 anos, essa pré-COP ganha relevância com a influência e presença da ativista sueca Greta Thunberg.

“A comunidade internacional realmente passou a escutar quais são as demandas dos jovens”, afirma.

Recentemente, Thunberg pronunciou palavras que repercutiram: “Blá, blá, blá”.

“Blá, blá, blá. É só que o temos ouvido dos nossos líderes. Palavras que soam ótimas, mas que até agora não produziram nenhuma ação. Nossos sonhos e esperanças se afundam nessas palavras vazias. Claro que precisamos de diálogo, mas já são 30 anos de blá, blá, blá”, disse, na terça-feira, na plenária de abertura da cúpula juvenil.

Nesta quinta, autoridades anunciaram o compromisso de que as propostas elaboradas pelos jovens serão realmente analisadas em Glasgow. “Vamos garantir que a voz dos jovens seja ouvida”, disse o presidente da COP-26, Alok Sharma. Para Draghi, que encontrou Thunberg e outras duas ativistas pela manhã, o “blá, blá, blá” é mesmo uma forma de “esconder a nossa incapacidade de agir”. “Mas, até certo ponto, [o blá, blá, blá] é útil para convencer as pessoas de que uma ação é necessária.”

“Nós, adultos, criamos esse problema, não vocês. Mas agora estamos melhor do que dois ou três anos atrás. Eu vejo mais convicção entre os líderes. Não esqueçamos que alguns líderes abandonaram o Acordo de Paris há menos de três anos”, disse o premiê Draghi, que agradeceu nominalmente o presidente americano, Joe Biden.

O antecessor de Biden na Casa Branca, Donald Trump, anunciou a retirada dos EUA do acordo em junho de 2017 –o que foi formalizado em novembro de 2020.

Biden, logo após assumir a presidência, recolocou o país no acordo. Ausente do evento, o presidente americano foi representado por John Kerry, enviado especial dos EUA para assuntos climáticos.

A pré-COP acontece em Milão até sábado, com a participação de cerca de 40 países. Ela é a última oportunidade formal de os ministros avançarem em detalhes que serão discutidos e concordados -ou não- pelas delegações em Glasgow.

Adiada em um ano por causa da pandemia de Covid, a conferência é uma das mais aguardadas desde o Acordo de Paris, em 2015. É nela que os países devem atualizar seus compromissos para reduzir a emissão de carbono.

Um dos objetivos da presidência britânica da COP-26 é um acordo sobre a meta de neutralizar emissões até 2050 e limitar o aumento da temperatura global até 1,5ºC –um crescimento provável de ocorrer até 2040.

Na ausência do ministro do Meio Ambiente do Brasil, Joaquim Álvaro Pereira Leite, o país conta com quatro representantes oficiais em Milão: o embaixador Paulino de Carvalho Neto, secretário de Assuntos de Soberania Nacional e Cidadania do Ministério das Relações Exteriores, dois secretários do Ministério do Meio Ambiente e mais uma funcionária do Itamaraty.

Ao fim da sessão da manhã, Carvalho Neto pediu a palavra. “Assumimos compromissos significativos no âmbito do Acordo de Paris, com uma ambiciosa NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada do Brasil, na sigla em inglês), que pretendemos ainda mais ambiciosa. E anunciamos em abril, no Climate Leaders Summit, que vamos antecipar nossa emissão líquida zero para 2050”, afirmou.

Apesar da fala do representante brasileiro, a meta brasileira inicial, ainda sob o governo de Dilma Rousseff (PT), teve uma certa sorte ao ser apresentada, o que poderia facilitar o seu cumprimento pelo Brasil.

A base de cálculos de emissões é de 2005, ano em que o desmatamento na Amazônia era elevadíssimo e, com isso, também eram as emissões –já que no Brasil os gases-estufa estão principalmente ligados ao desmatamento e à atividade agropecuária.

A atualização recente da meta brasileira não foi bem recebida, por, segundo análises de organizações, não ser mais ambiciosa do que a anterior. A partir de uma mudança na base de comparação de emissões, a nova meta nacional acaba dando margem para aumento das emissões.