Arte

Justiça de Nova York manda empresário indenizar grafiteiros por desenho apagado

Empresário Gerald Wolkoff terá de pagar US$ 6,7 milhões por ter destruído sem avisar 45 dos grafites que estampavam um galpão em Long Island City, no Queens

Numa decisão histórica, um juiz de Nova York acaba de condenar o dono de uma construtora a indenizar um grupo de grafiteiros por ter apagado os seus murais num prédio que seria demolido.
O empresário Gerald Wolkoff, um dos nomes mais poderosos da indústria imobiliária na maior metrópole americana, terá de pagar US$ 6,7 milhões, mais de R$ 22 milhões, por ter destruído sem avisar 45 dos grafites que estampavam um galpão em Long Island City, no Queens.

Nos últimos anos, esse distrito nova-iorquino cheio de prédios industriais abandonados e sobrados de classe média vem sofrendo uma onda de especulação imobiliária e se tornou o foco de empreiteiras que retalharam o bairro num imenso canteiro de obras, com novas torres de apartamentos e escritórios erguidas em ritmo superveloz.

Wolkoff havia comprado o prédio conhecido como 5Pointz para construir um novo condomínio residencial no lugar, mas decidiu apagar os desenhos de suas fachadas antes de demolir o edifício.
Os grafiteiros com obras ali então entraram na Justiça cobrando indenizações por trabalhos que não sabiam que sumiriam do mapa, levando à decisão favorável a eles.

Em sua sentença, o juiz Frederic Block chamou o empresário de insolente e ordenou o pagamento de US$ 150 mil por mural, lembrando que o 5Pointz era uma atração turística com trabalhos de arte formidáveis e que os artistas tinham direito de se despedir de suas obras nos meses antes da demolição. Seria um tributo.

Jonathan Cohen, ex-diretor do complexo industrial, disse que o 5Pointz era um templo que não pode ser substituído e chamou a decisão judicial de passo monumental para pensarmos a nossa arte e a nossa cultura.

Na contramão de São Paulo, onde agentes da prefeitura já apagaram obras de artistas renomados como a dupla Osgêmeos, a decisão do tribunal nova-iorquino foi considerada histórica não só pelo valor pago aos artistas, mas por favorecer de modo inédito um grupo de artistas em detrimento dos interesses da indústria imobiliária, opondo dois dos maiores setores da economia da cidade.

Essa decisão não é uma vitória só para os artistas da cidade, mas para os artistas de todo o país, diz Eric Baum, advogado que representou os grafiteiros. Deixou clara a mensagem que a arte é protegida pela lei e deve ser prestigiada e não destruída.