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Macacos se isolam socialmente conforme envelhecem e interagem só com aqueles que são leais

Pesquisadores observaram o distanciamento em macacos que vivem em reserva na Tailândia

(Folhapress) Conforme envelhecem, macacos restringem seu círculo de relações e mantêm as interações com aqueles que são mais leais.

O comportamento é observado em muitos primatas, inclusive em humanos, embora os humanos sejam capazes de neutralizá-lo, segundo estudo publicado nesta quarta-feira (13).

A pesquisa, que sugere que preservar as relações sociais na velhice é um fator importante para se manter com boa saúde, não avança nos motivos por trás desse distanciamento.

Entre humanos, está comprovado que, ao envelhecer, pessoas diminuem seu círculo de contatos, segundo o etólogo Baptiste Sadoughi, principal autor do estudo e doutor em ecologia do comportamento da Universidade de Göttingen na Alemanha e do Instituto Leibniz para a Pesquisa de Primatas (DPZ). Os indivíduos priorizam a qualidade das relações em relação à quantidade, de acordo com teoria da seleção socioemocional desenvolvida na década de 1990.

O problema das conclusões sobre humanos é que os estudos de comportamento se baseiam em mostras transversais, ou seja, misturam grupos de diferentes idades em um mesmo momento, o que inevitavelmente produz vieses.

O trabalho conduzido pela equipe do Instituto Leibniz foi seguir uma população de macacos-de-assam (Macaca assamensis), que vivem em liberdade em uma reserva na Tailândia, durante um período prolongado. O comportamento de 61 fêmeas, de 4 a 30 anos, foi observado durante vários anos entre 2013 e 2021.

MENOS INTERAÇÕES FÍSICAS

Os pesquisadores observaram que o isolamento aumenta com o passar dos anos, com uma redução pela metade do tamanho da rede social média entre uma fêmea de 10 anos e uma de 20 anos.

O afastamento foi baseado em práticas de limpeza mútua, a forma preferida de relacionamento nessa espécie de primata.

As análises excluem que esse ato resulte de uma segregação espacial.

Mesmo na velhice, os macacos mantêm uma proximidade física com seus congêneres.

Seu isolamento é social e relativo e, em parte, deliberado: o indivíduo que está envelhecendo é responsável por grande parte dessas mudanças, porque ele se aproxima menos dos outros e inicia menos interações físicas.

Esse processo também é sofrido, pois com a idade a macaca fêmea é cuidada por um número cada vez menor de indivíduos.

Entretanto, ela ainda será cuidada por seus amigos leais e vai se relacionar cada vez mais com os indivíduos com os quais interagiu com mais frequência.

Os macacos-de-assam estão, portanto, sujeitos a um fenômeno de seletividade social, uma estratégia para lidar com o envelhecimento.