Crise na América Latina

Milhares marcham na Colômbia em greve geral contra governo de Iván Duque

Os manifestantes insistem que Duque -que enfrenta sua pior crise de popularidade desde que assumiu, há 15 meses-, mantenha salários mínimos para os jovens e o direito universal à aposentadoria

Sindicatos, grupos de estudantes, indígenas e ambientalistas colombianos marcham nesta quinta (21), na capital e nas principais cidades do país, em uma greve geral para rechaçar medidas como uma reforma trabalhista e outra previdenciária que estão sendo propostas pelo governo do presidente Iván Duque.

Dezenas de milhares de pessoas estão nas ruas, e já há registros de enfrentamentos com a polícia em Bogotá, Cali e Manizales.

Os manifestantes insistem que Duque -que enfrenta sua pior crise de popularidade desde que assumiu, há 15 meses-, mantenha salários mínimos para os jovens e o direito universal à aposentadoria.

Há também críticas à política de segurança focada na luta contra o narcotráfico e a tentativa do presidente de modificar o pacto de paz que levou ao desarmamento da antiga guerrilha das Farc em 2016.

Presidente da Confederação Geral do Trabalho, uma das entidades que convocaram a marcha no mês passado, Julio Roberto Gómez disse à agência AFP esperar que o “acúmulo de situações” que levou aos protestos possa ser negociado.

Em Bogotá, os manifestantes se reuniram em sete pontos da cidade e marcharam até a praça Bolívar, sede do Congresso e a uma quadra do palácio presidencial.

O presidente negou repetidamente que planeja propor leis de reforma previdenciária e tributária que contenham as mudanças alegadas pelos manifestantes. Ele disse que rejeitou imediatamente a ideia de reduzir os salários dos jovens -que tinha sido proposta por um ‘think tank’.

“Nenhuma reforma foi proposta”, disse Duque durante uma rara transmissão ao vivo pelo Facebook nesta semana, acrescentando que ele não quer aumentar a idade da aposentadoria. “Foi dito que queremos pagar aos jovens menos que o salário mínimo. Isso também é mentira.”

Os partidários da marcha, que incluem sindicatos importantes, alegam que o governo de Duque também quer tornar privado o fundo de pensão estatal Colpensiones e diferenciar salários por região. Já os indígenas exigem proteção após o assassinato de 134 membros da comunidade desde que Duque assumiu o cargo.

Os protestos foram majoritariamente pacíficos, mas houve confrontos no bairro de Suba, em Bogotá, onde a polícia disparou gás lacrimogêneo na tentativa de reabrir uma estação de ônibus fechada pelos protestos, e em Cali, onde ônibus foram vandalizados e sete policiais ficaram feridos.

Uma outra estação do sistema de ônibus rápido Transmilenio em Bogotá foi vandalizada por homens encapuzados, que foram expulsos por outros manifestantes.

Em Bogotá, Bucaramanga e Medellín, cidades nas quais milhares de pessoas foram às ruas, houve forte redução no fluxo de veículos e de pedestres. Muitas empresas, universidades e faculdades cancelaram suas atividades. O sistema Transmilenio, na capital, foi paralisado quase totalmente pelos protestos.

Outros grupos de manifestantes participam para protestar contra o que eles dizem ser falta de ação do governo para impedir o assassinato de centenas de ativistas de direitos humanos, corrupção nas universidades e outras questões.

Em um momento de tumulto generalizado em outros países da América Latina, a polícia invadiu nesta semana uma revista de cultura antes do protesto, ao passo em que Duque advertia que seu governo não toleraria violência.

Na noite de terça (19), a polícia entrou na redação da revista Cartel Urbano e revirou obras de arte. Funcionários da publicação postaram vídeos nas redes sociais mostrando a ação.

Em função dos protestos, o governo fechou fronteiras terrestres e fluviais do país até sexta (22) em 12 postos de controle migratório nas divisas com o Brasil, Equador, Peru e Venezuela, afirmou a jornalistas o diretor da agência de migração colombiana, Christian Krüger.

“Esta é uma medida que pretende evitar que estrangeiros ingressem no território nacional com a intenção de alterar a ordem pública e a segurança”, acrescentou Krüger.

A ONU manifestou preocupação com o aumento da presença de militares nas ruas do país nos dias anteriores ao protesto. O escritório local das Nações Unidas também observou “com preocupação” a emissão de “vários decretos, circulares e instrutivos” que permitem às autoridades declarar toque de recolher e ter apoio do Exército em caso de excesso.

A universitária Valentina Gaitán, 21, carregava uma faixa para convidar à mobilização: “Que o privilégio não tira a sua empatia”. Ao redor dela, alunos cantavam.

“Há muito medo de sair para as ruas, mas mesmo assim saímos porque muito desse medo foi espalhado pelo Estado com repressão simbólica, militarização, fechamento de fronteiras”, afirmou.

Duque reconheceu na quarta-feira (20) a legitimidade de algumas reivindicações, mas disse que há uma campanha baseada em “mentiras” que busca desencadear violência.