PUNHO DE FERRO

Morre aos 90 anos Chun Doo-hwan, ditador da Coreia do Sul de 1979 a 1987

Período no poder foi marcado por forte repressão a movimentos pró-democracia

Morre aos 90 anos Chun Doo-hwan, ditador da Coreia do Sul de 1979 a 1987 (Foto: reprodução - Folha de SP)

Ditador que governou a Coreia do Sul com punho de ferro após um golpe militar em 1979, Chun Doo-hwan morreu nesta terça-feira (23) aos 90 anos, divulgou seu ex-assessor de imprensa.

Chun tinha mieloma múltiplo, um câncer no sangue, que estava em remissão. Recentemente, porém, sua saúde piorou, segundo seu ex-secretário de imprensa, Min Chung-ki. Ele faleceu em sua casa em Seul no início da manhã (noite de segunda no Brasil), e seu corpo será transferido para um hospital para um funeral no fim do dia.

Comandante militar, Chun presidiu o massacre de manifestantes pró-democracia do exército de Gwangju em 1980. Acredita-se que milhares de estudantes tenham sido mortos, de acordo com depoimentos de sobreviventes, ex-militares e investigadores.

Chun nasceu em 6 de março de 1931, em Yulgok-myeon, uma cidade agrícola pobre, durante o domínio japonês sobre a Coreia.

Ele ingressou no exército logo depois do colégio, subindo na hierarquia até ser nomeado comandante em 1979. Assumindo o comando da investigação sobre o assassinato do presidente Park Chung-hee naquele ano, Chun cortejou aliados militares importantes e assumiu o controle das agências de inteligência da Coreia do Sul para encabeçar um golpe.

“Diante das organizações mais poderosas sob a presidência de Park Chung-hee, fiquei surpreso com a facilidade com que Chun ganhou o controle delas e como ele se aproveitou habilmente das circunstâncias. Em um instante, ele parecia ter se tornado um gigante,” disse Park Jun-kwang, subordinado de Chun durante o golpe, ao jornalista Cho Gab-je.

O governo de oito anos de Chun na Casa Azul presidencial foi caracterizado pela brutalidade e repressão política. No entanto, também foi marcado por uma prosperidade econômica crescente. Chun renunciou ao cargo em meio a um movimento democrático liderado por estudantes em todo o país, em 1987, exigindo um sistema eleitoral direto.

Em 1995, ele foi acusado de motim, traição e foi preso após se recusar a comparecer ao Ministério Público e fugir para sua cidade natal. No que a mídia local chamou de “julgamento do século”, ele e o coconspirador do golpe, seu sucessor Roh Tae-Woo, foram considerados culpados de motim, traição e suborno. Em seu veredicto, os juízes disseram que a ascensão de Chun ao poder veio “por meios ilegais que infligiram enormes danos ao povo”.

Durante seu julgamento, o ex-líder sul-coreano defendeu o golpe como necessário para salvar o país de uma crise política e negou o envio de tropas para Gwangju. “Estou certo de que tomaria a mesma atitude, se surgisse a mesma situação”, disse ao tribunal.

Roh foi condenado a uma longa pena de prisão enquanto Chun foi condenado à morte. No entanto, eles foram anistiados pelo Tribunal Superior de Seul em reconhecimento ao papel de Chun no desenvolvimento econômico acelerado da economia do tigre asiático e a transferência pacífica em 1988 da Presidência para Roh —que morreu há cerca de um mês, aos 88 anos.

Os dois foram então libertados da prisão em 1997 pelo presidente Kim Young-sam, no que ele chamou de um esforço para promover a “unidade nacional”.

Chun fez vários retornos aos holofotes. Ele causou furor nacional em 2003 quando reivindicou ativos totais de 291 mil won (R$ 1,37 mil na cotação autal) em dinheiro, dois cães e alguns eletrodomésticos —enquanto devia cerca de 220,5 bilhões de won (R$ 1,04 bilhão) em multas. Seus quatro filhos e outros parentes mais tarde foram apontados como proprietários de grandes extensões de terra em Seul e luxuosas propriedades nos Estados Unidos.

Em 2013, a família de Chun prometeu pagar a maior parte de sua dívida, mas suas multas não pagas ainda totalizavam cerca de 100 bilhões de won (R$ 470 milhões) em dezembro de 2020.

Em 2020, Chun foi considerado culpado e recebeu uma sentença suspensa de oito meses por difamar um ativista pela democracia e padre católico em suas memórias de 2017. Os promotores apelaram, e Chun iria a julgamento na próxima semana.