meio ambiente

Mudança climática mudará profundamente a produção de vinho, indica estudo

Até 90% das regiões vinícolas das áreas costeiras e do interior de Espanha, Itália e Grécia podem estar ameaçadas de extinção

(Folhapress) Vinhedos nos Andes e nos pampas argentinos? De acordo com um estudo francês publicado nesta terça-feira (26), a mudança climática resultará em uma modificação profunda na geografia vinícola em todo o mundo.

“A mudança climática está alterando a geografia do vinho, e haverá vencedores e perdedores”, resume Cornelis van Leeuwen, professor de viticultura de uma escola de engenharia agronômica francesa, a Bordeaux Sciences Agro.

O calor e a seca aumentarão e, com eles, as doenças e as pragas nas videiras, segundo o estudo publicado na revista científica Nature Reviews Earth & Environment.

Até 90% das regiões vinícolas tradicionais das áreas costeiras e do interior da Espanha, Itália e Grécia podem estar ameaçadas de extinção.

Ao mesmo tempo, áreas onde o cultivo de uvas é hoje escasso ou inexistente, como no sul da Inglaterra, nos pampas ou em regiões mais altas dos Andes, podem se beneficiar.

De acordo com seu nível específico de aquecimento, essas regiões tradicionais, desde La Rioja, na Espanha, até Bordeaux, na França, podem perder de 49% a 70% de suas colheitas.

“É possível produzir vinho em quase qualquer lugar [inclusive em climas tropicais], mas nos concentramos na produção de vinhos de qualidade, com rendimentos economicamente viáveis”, explica Van Leeuwen.

Por outro lado, de 11% a 25% das regiões onde as videiras já estão estabelecidas podem ver melhorias em sua produção, e novas regiões podem surgir em latitudes e altitudes mais altas.

“Dada a extensão da irrigação já adotada nas regiões vinícolas mais secas, como Mendoza [na Argentina], as projeções de precipitação sobre os vinhedos tradicionais da América do Sul não indicam mudanças substanciais em sua adequação”, indica o relatório.

“Portanto, a adequação futura nessas regiões dependerá principalmente do aumento da temperatura, da disponibilidade de água subterrânea e superficial e da frequência de eventos extremos”, completa.

O estudo afirma que, “para um nível limitado de aquecimento, espera-se que o setor do Pacífico sul-americano experimente um baixo risco de perda de adequação, mas esse risco aumenta para as regiões atlânticas como Brasil e Uruguai”.

“As regiões vitivinícolas de clima fresco, como a região dos pampas, podem melhorar nessas condições. No caso de um aquecimento mais severo, a resiliência das regiões vitivinícolas do norte da Argentina pode exigir um deslocamento das terras baixas para as encostas mais altas dos Andes, enquanto o setor atlântico oferecerá poucas oportunidades para a vinificação”, dizem os especialistas.

“A expansão para áreas recém-adaptadas poderia envolver um movimento para o sul em direção à Patagônia argentina ou potencialmente uma exploração das altas altitudes dos Andes equatorianos e colombianos.”

IRRIGAÇÃO

Um nível limitado de aquecimento seria aquele abaixo de 2°C na média global —o mesmo considerado como limite no Acordo de Paris, que visa, idealmente, até 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.

Esse aumento da temperatura média do planeta também permitiria a sobrevivência da maioria das regiões produtoras atuais na Europa, onde a maioria do vinho é produzido.

Em um nível acima de 2°C, a Califórnia também seria muito prejudicada.

“Advertimos contra a implementação da irrigação: é uma adaptação equivocada”, afirma Van Leeuwen.

“Os vinhedos irrigados são mais vulneráveis à seca se houver falta de água”, e a água “é um recurso limitado e é insensato alocá-lo para a videira, que pode se adaptar muito bem a um cultivo de sequeiro”, enfatiza.