Protesto

Mulher invade jornal de TV estatal russa com cartaz contra a guerra na Ucrânia

Em meio a uma dura onda de repressão a pessoas que se manifestam contra a…

Em meio a uma dura onda de repressão a pessoas que se manifestam contra a invasão russa na Ucrânia, uma mulher invadiu o estúdio de um jornal na principal emissora de TV na Rússia em um ato contra a guerra. Identificada como Marina Ovsyannikova, uma redatora que trabalha no próprio Canal Um, ela entrou no estúdio com um cartaz onde se liam frases como “não acreditem na propaganda” e “eles estão mentindo para vocês”. O microfone da apresentadora ainda captou seus gritos de “parem a guerra”.

Em seguida, uma matéria foi posta no ar, e ela foi retirada do estúdio.

Após o protesto, um vídeo gravado pela própria Marina foi divulgado em redes sociais. Ali, pedia desculpas pelo seu trabalho no Canal Um, apontado como uma das principais ferramentas do Kremlin para difundir sua própria versão do conflito: a de que se trata de uma “operação militar especial” com o objetivo de “desnazificar” a Ucrânia.

— O que está acontecendo na Ucrânia é um crime, e a Rússia é agressora. A responsabilidade pela agressão é de um homem: Vladimir Putin. Meu pai é ucraniano, minha mãe é russa, e eles jamais foram inimigos. Este colar mostra que a Rússia precisa parar com essa guerra fratricida — afirmou no vídeo, mostrando um colar que usava com as cores das bandeiras da Rússia e da Ucrânia. — Nós não protestamos quando o Kremlin envenenou Alexei Navalny. Nós silenciosamente observamos esse regime desumano. Agora o mundo inteiro virou as costas para nós, e nem dez gerações de nossos descendentes vão limpar essa guerra fratricida.

O vídeo foi divulgado pelo sistema OVD-Info, que monitora prisões de ativistas e manifestantes de oposição na Rússia. Em comunicado à agência RIA Novosti, o Canal Um disse que houve “um incidente com uma pessoa estranha no estúdio, e uma investigação interna está em andamento”. Outros veículos de imprensa russa reportando o caso estão borrando a imagem do cartaz para evitar problemas com as autoridades.

No Twitter, o jurista e ativista Pavek Chikov, chefe da Associação Agora de Direitos Humanos, disse que designou um advogado para acompanhar o caso, e que vai até a delegacia de Moscou para onde Marina Ovsyannikova foi levada. Chikov disse que ela responderá a processo por ter violado uma lei, aprovada no início do mês, que prevê punição de até 15 anos de prisão a quem divulgar informações que busquem “desacreditar” as Forças Armadas. Essa legislação levou à saída de jornalistas russos e correspondentes internacionais do país.

Um representante do líder oposicionista Alexei Navalny, Leonid Volkov, disse que sua organização está pronta para pagar multas relacionadas ao caso de Ovsyannikova e de qualquer outro funcionário do Canal Um que fizer protestos semelhantes.

Desde o início do conflito, 14.911 pessoas foram presas em protestos contra a guerra em cidades russas, segundo o OVD-Info, e estão sujeitos a até cinco anos de prisão — também há relatos de pessoas que tiveram suas casas revistadas por agentes da polícia e de russos que precisaram mostrar seus aplicativos de mensagens antes de deixar o país.