Músicos na Ucrânia tocam para pessoas abrigadas em estação de metrô
Concerto neste sábado emocionou quem está há semanas morando com medo no subterrâneo
Em Kharkiv, atacada quase que diariamente pelas forças russas, um grupo de músicos ucranianos ofereceu neste sábado (26) um concerto a um público reduzido, mas emocionado. Sem o som dos bombardeios, foi como se o tempo parasse por alguns minutos em meio à guerra.
Durante meia hora, três violinistas, um violoncelista e um contrabaixista tocaram para algumas dezenas de pessoas em uma das principais estações de metrô da segunda maior cidade da Ucrânia, perto da fronteira com a Rússia.
No subsolo, protegidos de foguetes e mísseis de longo alcance, os músicos com idade entre 20 e 35 anos executaram na sequência o hino nacional, um trecho da “Suíte nº 3” de Johann Sebastian Bach, “Humoresques”, de Antonin Dvorak, e melodias do folclore ucraniano.
Também interpretaram uma composição do ucraniano Miroslav Skorik frequentemente usada pelo presidente Volodimir Zelenski em seus vídeos e publicações nas redes sociais.
O concerto foi realizado na escadaria de mármore de uma estação com ares de catedral, sob o olhar encantado de cidadãos refugiados. Dezenas de famílias vivem no local desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro, fugindo da guerra na superfície e dormindo em vagões de trem ociosos.
“Isso nos ajuda a encher o coração e a superar os momentos difíceis”, disse Sergui Politutchi, idealizador do concerto e diretor do Kharkiv Music Fest. Um dos eventos mais prestigiados da Ucrânia, o festival deveria ter começado justamente neste sábado (26) —caso não houvesse uma guerra.
Prefeito e governador assistiram ao recital, na Ucrânia
Com escolta armada, assistiram ao recital o governador da região de Kharkiv, Oleg Sinegubov, e o prefeito da cidade, Igor Terejov.
Entre os cinco músicos estava o violoncelista profissional Denos Karachevtsev, cujos vídeos se apresentando em frente a prédios bombardeados de Kharkiv viralizaram nas redes sociais nos últimos dias.
“Era uma ideia simples, de ser útil à minha gente, ao meu país, à minha cidade natal. Amo a cidade, seu povo, e vou fazer tudo o que puder para ajudar”, disse o violoncelista à agência de notícias AFP.
“As pessoas me contaram que meus vídeos lhes trouxeram de volta um pouco de normalidade à vida. É algo importante nesse momento. Não temos medo, somos fortes, e cada um pode ajudar da sua maneira.”
A violinista Tatiana Shuj estava radiante após a curta, mas intensa, apresentação. “Todos foram à minha casa para um único ensaio”, contou. “Nos primeiros dias da guerra, um silêncio total tomou conta de mim. Depois, entendi que precisamos continuar vivendo, pelos nossos ideais, nosso país, nosso futuro.”
Para ela, tocar instrumentos e se apresentar é algo que músicos devem fazer sob qualquer circunstância. Com um sorriso, ela acrescentou: “Talvez tenha sido o melhor show da minha vida”.