Nave espacial da Boeing falha, e empresa acumula novo revés
Cerca de 30 minutos depois, porém, a equipe da Boeing anunciou uma falha na inserção da cápsula em órbita, mas disse que tinha controle sobre a missão
Uma falha na cápsula Starliner, da Boeing, lançada nesta sexta (20) num voo-teste em parceria com a Nasa, impediu que a nave se acoplasse à Estação Espacial Internacional e representa uma nova derrota para a empresa, que vive sua pior crise após dois acidentes com seu principal avião, o MAX 737. Às 8h36 (horário de Brasília), a cápsula CST-100 Starliner partiu de Cabo Canaveral (Flórida) a bordo do foguete Atlas V, da empresa ULA (United Launch Alliance), em direção à ISS. Assim que um clarão surgiu no céu após a contagem regressiva, gritos e palmas irromperam na arquibancada montada para turistas no gramado do Kennedy Space Center Visitor Complex, de onde a reportagem acompanhou o lançamento.
Cerca de 30 minutos depois, porém, a equipe da Boeing anunciou uma falha na inserção da cápsula em órbita, mas disse que tinha controle sobre a missão. O administrador da Nasa, Jim Bridenstine, afirmou em seguida em rede social: “A Starliner está em órbita estável. A queima de inserção orbital [ou seja, o acionamento dos propulsores para que ela seja colocada numa órbita pré-determinada] para o encontro com a ISS não aconteceu. Estamos trabalhando na questão”. Horas depois, em entrevista a jornalistas, Bridenstine e representantes das entidades envolvidas na missão deram o veredicto: a Starliner não atingiu a órbita correta para ir à ISS e deve voltar para a Terra em um pouso em White Sands, Novo México, nas próximas 48 horas.
Segundo o administrador da Nasa, a cápsula “achou” que estava em um horário diferente e, como é totalmente automatizada, seguiu o cronograma errado. Com isso, a Starliner queimou muito combustível e não acionou os propulsores na hora certa para entrar na órbita que deveria. Para piorar, a equipe não conseguiu se comunicar com a nave e corrigir o problema a tempo por causa de dois satélites próximos, o que levanta a questão da superlotação de cacarecos espaciais.
A nave foi projetada sob encomenda da Nasa para levar astronautas à órbita terrestre. O voo-teste, não tripulado, era uma etapa crucial para que a Boeing cumprisse sua parte na missão de fazer com que os EUA voltem a viajar por conta própria ao espaço. Desde 2011, quando os ônibus espaciais da Nasa foram aposentados, os americanos dependem da nave russa Soyuz para ir à ISS, a um custo de cerca de US$ 90 milhões (R$ 366 milhões) por assento.
A agência espacial americana então se uniu ao setor privado para virar esse jogo e, em 2014, escolheu Boeing e a SpaceX, de Elon Musk, para levar os primeiros astronautas até a ISS dentro de seu programa de voos comerciais tripulados. A Boeing recebeu US$ 4,2 milhões da Nasa e a SpaceX, US$ 2,6 milhões para o desenvolvimento das naves. Ambas estão atrasadas em pelo menos dois anos -os voos tripulados deveriam ter acontecido em 2017- e enfrentaram problemas pelo caminho. A SpaceX saiu na frente com um bem-sucedido voo-teste até a ISS em março de 2019, mas, em abril, a nave pegou fogo e foi destruída durante um teste do seu sistema de emergência na Flórida. Uma segunda tentativa deve ocorrer em janeiro de 2020. Já a Boeing fez esse mesmo teste no mês passado e viu um dos paraquedas falhar. Um vazamento de combustível ocorreu em outro teste do tipo no ano passado.
A empresa de Elon Musk larga agora com clara vantagem. Sobre a Boeing, ainda é cedo para saber o que acontecerá com seu calendário e quando ocorrerá o próximo voo. Nesta mesma semana, a gigante aeroespacial decidiu suspender temporariamente, a partir de janeiro, a produção do modelo 737 MAX, que está proibido de voar desde março. O avião, o principal produto da companhia com mais de 5.000 encomendas, sofreu dois acidentes nos quais morreram 346 pessoas, um em outubro de 2018 e outro em março deste ano. Nos nove primeiros meses deste ano, o lucro operacional da empresa caiu 97% em relação a 2018. Relatos internos de funcionários e relatórios de órgãos especializados apontaram negligência da Boeing no processo de certificação do Max.