PANDEMIA

Novo teste portátil de anticorpos do coronavírus traz resultado em 1 h com alta precisão

Cientistas da Universidade Duke, dos Estados Unidos, desenvolveram um novo teste capaz de detectar os…

Cientistas da Universidade Duke, dos Estados Unidos, desenvolveram um novo teste capaz de detectar os anticorpos contra o coronavírus Sars-CoV-2 de alta precisão e com resultado em cerca de uma hora usando apenas uma gota de sangue.

Um artigo descrevendo o teste foi publicado nesta sexta-feira (25) na revista científica Science Advances, editada pela Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS), mesmo grupo que publica a prestigiosa revista Science.

O dispositivo, incluindo a tela onde o resultado é demonstrado, pode ser carregado em uma mochila e funciona com uma bateria, de acordo com os pesquisadores. A alta sensibilidade do teste e sua portabilidade permitiriam seu uso para ampliar levantamentos sorológicos da população e saber quem já teve contato com o patógeno.

No entanto, testes de anticorpos não indicam se a pessoa está com a infecção na fase aguda (naquele momento) e têm potencial limitado para dizer se alguém que já voi infectado pelo vírus ou que recebeu uma vacina anti-Covid está protegido.

Anticorpos são proteínas produzidas pelo sistema imunológico capazes de evitar que o vírus se ligue às células do corpo e inicie uma infecção. A presença dessas proteínas indica que a pessoa teve um contato prévio com o vírus, mas não garante a proteção contra a doença. Há outras moléculas produzidas pelo sistema imune que formam barreira importante contra a infecção e não podem ser detectadas em tais exames.

De acordo com os resultados, o dispositivo é capaz de detectar e quantificar vários anticorpos que se relacionam com diferentes partes do vírus. O teste não apresentou nenhum resultado falso e ainda indicou a presença de anticorpos contra outros quatro tipos de coronavírus, demonstrando assim seu potencial para ser utilizado mesmo após a pandemia contra outras doenças.

A técnica usada no dispositivo é chamada de microfluídica. Trata-se de um sistema baseado em microchips por onde os fluidos circulam e reagem entre si. Quando uma reação positiva acontece, há a emissão de fluorescência que indica o resultado.

Embora ela não seja usada em larga escala ainda, não é nova e vem sendo desenvolvida há alguns anos. A aplicação para detecção de anticorpos do Sars-CoV-2 é inédita.

Para Flávio da Fonseca, virologista da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV), que não participou da pesquisa, o novo exame chega em um momento apropriado.

“Depois de um ano e meio de pandemia, queremos saber como o vírus circulou em cada país e se as pessoas geraram alguma resposta imune contra o Sars-CoV-2, e isso um bom teste de anticorpos pode responder”, diz o cientista.

Segundo Fonseca, o teste baseado em microfluídica não substitui o atual padrão ouro para detectar a infecção na fase aguda —o RT-PCR—, mas é uma alternativa melhor diante dos testes rápidos comercializados hoje, que também detectam anticorpos, mas têm qualidade variável (ainda fornecem resultados errados em algumas ocasiões) e não mostram a quantidade dos anticorpos.

“Resta saber se o sistema será vantajoso do ponto de vista comercial para poder ser usado no Brasil”, diz o cientista.

Os desenvolvedores do novo teste afirmam que, no futuro, o exame pode servir para confirmar se uma pessoa já teve contato com alguma variante do Sars-CoV-2. Os cientistas também desenvolvem uma maneira de o teste detectar biomarcadores que possam indicar se um infectado tem maiores chances de desenvolver a Covid-19 na forma mais grave.