A mãe do homem acusado de ter assassinado Shinzo Abe na última sexta-feira é membro da Igreja da Unificação, confirmou nesta segunda-feira a organização conhecida também pelo nome de “seita Moon”, da qual o suspeito queria se vingar ao atacar o ex-primeiro-ministro japonês.
Aqui estão alguns elementos sobre este movimento religioso que surgiu na Coreia do Sul, que sempre manteve vínculos com autoridades políticas, enquanto montava um império econômico mundial.
Quem foi seu fundador?
O muito controverso Sun Myung Moon (1920-2012) nasceu em uma família de agricultores no que hoje é a Coreia do Norte. Afirmava que, aos 15 anos, teve uma visão de Jesus Cristo pedindo que continuasse sua missão para que a humanidade alcançasse um estado de pureza “sem pecado”.
Moon fundou sua própria igreja em Seul em 1954 e logo entrou na política, adotando inicialmente uma linha claramente anticomunista e atraindo a simpatia do regime militar sul-coreano da época.
Moon também lidava com chefes de Estado estrangeiros, como Richard Nixon nos Estados Unidos, a quem apoiou durante o escândalo do Watergate. Na França, nos anos 1980, sua Igreja manteve breves vínculos com o movimento de extrema-direita Frente Nacional.
A organização se tornou progressivamente um império econômico presente em vários setores (construção, alimentos, automóvel, turismo e mídia), o que fez de seu fundador um bilionário.
Sun Myung Moon fez sua primeira viagem mundial em 1965 e se instalou nos Estados Unidos nos anos 1970. Condenado por sonegação de impostos, passou mais de um ano na prisão nos Estados Unidos no início dos anos 1980.
Qual é sua importância?
A Igreja da Unificação, conhecida por celebrar grandes casamentos coletivos, é atualmente controlada pela viúva de seu fundador, Hak Ja Han, sua segunda esposa, com quem teve cerca de dez filhos.
A organização afirmou em 2012 que tinha três milhões de fiéis em todo o mundo, um número exagerado de acordo com especialistas. Sua influência teria diminuído desde os anos 1980, devido a mudanças sociais e políticas na Coreia do Sul, a divisões internas e à própria morte de seu fundador.
Fora de seu país de origem, a Igreja está presente principalmente nos Estados Unidos, no Japão, mas também, principalmente na década de 1980, na América Latina.
Atividades no Brasil
Nos anos 1990, Moon lançou um projeto para transformar a pequena Jardim, em Mato Grosso do Sul, em uma cidade que seria conhecida como “Nova Coreia”, e habitada por milhares de imigrantes sul-coreanos, japoneses e de outras nacionalidades.
O objetivo era fazer com que servisse de modelo para outras cidades no mundo, e servindo como um exemplo de sucesso do reverendo Moon — contudo, o empreendimento sempre foi visto com receio pelos moradores da região. Havia relatos sobre uma suposta lavagem cerebral cometida contra quem se aproximasse da cidade, sobre tráfico de órgãos e até sobre a origem do vinho bebido ali.
Em entrevista ao jornal O Globo, em agosto de 1997, Moon disse que o projeto da “Nova Coreia” não tnha mais a ver com o combate ao comunismo, uma de suas bandeiras por décadas, mas com o que via como ações de “desintegração da família”, citando o “sexo livre e a disseminação das drogas”.
A Igreja da Unificação também fez investimentos em duas equipes de futebol brasileiras: o hoje extinto Clube Esportivo Nova Esperança, fundado por funcionários de uma das fazendas de Moon, e o Clube Atlético Sorocaba, comprado pela Igreja em 1999 mas que se licenciou de competições oficiais em 2016.
Quais vínculos tem com Shinzo Abe?
O suposto assassino de Abe, Tetsuya Yamagami, de 41 anos, “detestava essa organização” e decidiu matar o ex-primeiro-ministro porque acreditava que ele tinha um vínculo com a mesma, declarou a polícia japonesa na sexta-feira.
Segundo a mídia local, seria uma organização religiosa, não citada, e Yamagami a odiava porque teria obtido importantes doações de sua mãe, o que colocou sua família em sérias dificuldades financeiras.
Tomihiro Tanaka, presidente da filial japonesa da Igreja da Unificação, confirmou nesta segunda-feira que a mãe do suspeito era membro da organização desde 1998 e estava em dificuldades financeiras desde 2002, embora afirme ignorar as razões disso, já que “as doações são voluntárias”.
Tanaka também destacou que Shinzo Abe “nunca” foi um de seus membros ou conselheiro. No entanto, organizações próximas à Igreja da Unificação convidam frequentemente personalidades políticas importantes para conferências sobre a paz mundial.
O ex-presidente Donald Trump participou on-line de uma dessas conferências em 2021 e Abe foi criticado por um grupo de advogados japoneses por ter enviado uma mensagem em vídeo em um evento parecido.