DESMATAMENTO

OCDE pede compromisso com redução de desmatamento em convite ao Brasil

Entidade diz que metas climáticas serão prioridade na análise durante processo de acessão

OCDE pede compromisso com redução de desmatamento em convite ao Brasil - (Foto: Arquivo / Agência Brasil)

OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) incluiu nos documentos que formalizam o início das negociações para o ingresso do Brasil na entidade obrigações de redução de desmatamento e medidas de mitigação de mudanças climáticas previstas no acordo de Paris. Na resolução aprovada nesta terça-feira (25), os membros do conselho da OCDE enfatizam que deve ser considerado o comprometimento dos países com metas de redução de desmatamento e perda de biodiversidade na avaliação para autorizar a entrada na entidade.

Segundo Daniel Wilkinson, diretor da área de Meio Ambiente e Direitos Humanos da Human Rights Watch, trata-se de uma mensagem clara ao Brasil.

“Eles passam um recado ao Brasil: estamos prontos para iniciar o processo, mas desde que vocês se comprometam com ações concretas”, diz Wilkinson. “É fato conhecido que o desmatamento no Brasil está no maior nível, e os conselheiros deixam claro que o meio ambiente será fator determinante para autorizar a entrada do Brasil na OCDE.”

A Human Rights Watch tem enviado cartas aos conselheiros da OCDE com questionamentos sobre a política ambiental do presidente Jair Bolsonaro (PL). Na resolução, os membros do conselho pedem que, na avaliação de cada candidato, sejam avaliados, em particular, fatores como o comprometimento de “estruturar a agenda de reformas estruturais” como base para “crescimento forte, sustentável, verde e inclusivo” e de “assegurar uma efetiva proteção do meio ambiente e da biodiversidade, e ações ligadas a mudanças climáticas para atingir os objetivos do acordo do clima de Paris”.

Também enfatizam a necessidade de comércio e investimento livres, medidas para reduzir desigualdade e fortalecimento de governança e ações anticorrupção. Além do Brasil, foram convidados para iniciar o processo de acessão Argentina, Peru, Romênia, Bulgária e Croácia, que também são destinatários dos documentos.

O pedido formal do Brasil de adesão à OCDE ocorreu em 2017. O ingresso no “clube dos países ricos” é uma das prioridades da política externa do governo Jair Bolsonaro. Entrar na OCDE funciona como um selo de qualidade para investidores, pois os países membros se comprometem com o cumprimento de boas práticas para o funcionamento de seus governos e economias.

Na carta-convite, os membros do conselho da entidade ressaltam a necessidade de políticas alinhadas com os objetivos do Acordo de Paris e de atingir emissão líquida zero de gases do efeito estufa até 2050, por meio de profundas reduções nas emissões viabilizadas por investimentos públicos e privados.

A carta convite também fala sobre a “importância de cada país adotar e implementar integralmente políticas alinhadas a seus objetivos climáticos, incluindo as metas de redução de desmatamento e perda de biodiversidade acordadas durante a COP 26 em Glasgow”.

Após o convite formal, inicia-se um processo negociador que deve durar pelo menos dois anos. A média para a conclusão do processo dos últimos membros foi de quatro anos.

Para ter sucesso, o Brasil vai precisar aderir a uma série de instrumentos normativos da entidade, além de ter a sua candidatura analisada em diversos comitês. Mesmo antes da formalização do processo negociador, o Brasil já vinha adotando essas normas, justamente para sinalizar seu interesse em fazer parte do grupo.

Até o momento, o Brasil aderiu a 103 dos 251 instrumentos. Havia resistência de membros da OCDE em relação à entrada do Brasil, principalmente por causa da política ambiental do presidente Bolsonaro.

No comunicado, mais uma vez, os conselheiros ressaltam que “políticas para mudança climática, inclusive objetivos para reduzir e impedir desmatamento e perda de biodiversidade” devem ser incluídos nos “road maps” que estabelecerão os compromissos que os países devem assumir para serem, efetivamente, aceitos como membros.