Parlamento de Israel aprova novo premiê e põe fim a era Netanyahu
Depois de mais de uma década no comando de Israel, o premiê com a trajetória…
Depois de mais de uma década no comando de Israel, o premiê com a trajetória mais longeva do país, Binyamin Netanyahu, 71, deixou o cargo. O Parlamento aprovou neste domingo (13), por 60 votos a favor e 59 contrários, o nome do ultradireitista Naftali Bennett como seu sucessor —a Casa tem 120 cadeiras, e um dos integrantes se absteve.
O novo primeiro-ministro tem o apoio de uma coalizão de oito partidos, que vão da esquerda radical à direita nacionalista. É a primeira vez na história que um partido árabe (o conservador Ra’am) fará parte oficialmente do governo.
Esse bloco foi formado para tentar pôr fim à crise política que já dura dois anos, período no qual foram realizadas quatro eleições —todas terminaram sem que nenhum grupo conseguisse a maioria no Parlamento, o que permitiu a Netanyahu seguir no cargo de maneira interina.
Na sexta (11), ele ainda tentou uma última manobra para permanecer no governo. Ofereceu o cargo de premiê ao então ministro da Defesa, Benny Gantz —integrante da nova coalizão—, que, em troca, o nomearia para ser o vice-primeiro-ministro. A proposta foi prontamente rejeitada.
Agora que finalmente conseguiram destituir Netanyahu, caberá aos líderes do novo governo achar um denominador comum para governar o país e ocupar o vácuo deixado pelo ex-premiê —uma figura personalista e que concentrou o poder, afirma o cientista político Gideon Rahat, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém e pesquisador do IDI (Instituto da Democracia de Israel). “Para resumir, é como se estivéssemos indo de um regime monárquico para um oligárquico”, diz.
Neste domingo (13), antes da votação, Naftali Bennett postou no Twitter uma foto de si mesmo rezando com um tefilin (amuleto judaico), acompanhada das palavras: “O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e te conceda graça; o Senhor volte para ti o seu rosto e te dê paz”.
Desde que assumiu o governo pela primeira vez, em 1996 —ele saiu em 1999 e voltou ao cargo dez anos depois, mantendo-se até agora—, o homem conhecido pelo apelido de Bibi monopolizou as atenções do país, transformando cada eleição em um confronto entre seus apoiadores e seus críticos.
“Nesse aspecto, ele lembra Donald Trump. Foi elevado a um nível acima do bem e do mal por seus apoiadores, basta dar uma olhada nas redes sociais”, afirma o professor, que é especializado nos estudos sobre Israel. Além do ex-presidente americano, Netanyahu também foi próximo do brasileiro Jair Bolsonaro, que agora perde mais um aliado internacional.
Para Rahat, esse embate social foi incentivado pelo ex-premiê enquanto ele esteve no cargo e contribuiu para piorar o nível da democracia no país. Uma pesquisa do ano passado realizada pelo IDI apontou que 53,5% da população considerava que a democracia estava em risco em Israel.
Segundo o professor, isso aconteceu porque Netanyahu passou a última década atacando todas as instituições que criticavam ou colocavam limites a seu poder, como a imprensa independente, a oposição e a Justiça —em especial, a Suprema Corte. “Eu espero que isso mude, que tenhamos um governo que respeite a democracia liberal a partir de agora”, afirma.
No caso do Judiciário, a situação é ainda mais delicada porque Bibi é acusado de uma série de crimes, incluindo corrupção, suborno e fraude. Caso seja condenado, ele corre inclusive o risco de ser preso, o que o impediria de seguir na política para tentar retornar ao comando do país.
Mesmo com essas denúncias, Bibi segue sendo um político popular internamente, em grande parte pelo sucesso que obteve na área econômica. Em 2009, antes de ele reassumir como premiê, Israel tinha uma taxa de desemprego de 9,4% e o PIB per capita era de US$ 27.730, de acordo com os dados do Fundo Monetário Internacional. Com uma série de reformas do sistema financeiro e de medidas para favorecer o livre-mercado, ele agora deixa o cargo com um desemprego na casa dos 5% e um PIB per capita de US$ 47.600.
Outro trunfo é o sucesso da campanha de vacinação contra a Covid-19. O país tem a maior proporção de pessoas completamente imunizadas no planeta —57% dos moradores, segundo o site Our World in Data— e já deu início a uma ampla reabertura.
No flanco externo, o agora ex-premiê também assinou acordos recentes que estabeleceram laços diplomáticos entre Israel e cinco nações árabes —Bahrein, Omã, Sudão, Emirados Árabes Unidos e Marrocos. Antes disso, os únicos governos da região que reconheciam o país eram o Egito e a Jordânia.
“Eu diria que Netanyahu gostaria de ser lembrado na história por esses três aspectos”, afirma Yadgar, de Oxford.
Além disso, outro assunto que consumiu grande parte de seus governos foi o conflito com os palestinos. Seja como premiê e ministro ou na oposição, Netanyahu sempre teve um discurso em que colocou a segurança de Israel como prioridade e se opôs a negociações de paz —principalmente com o grupo islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza.
Durante seu governo, foram comuns os confrontos entre o Exército israelense e o grupo, incluindo aí uma guerra em 2014 que deixou milhares de mortos e o conflito do mês passado, que durou 11 dias. Essas ações geraram, inclusive, denúncias de violações dos direitos humanos contra Netanyahu.