Pequim fecha 15% das estações de metrô e 158 rotas de ônibus em nova restrição contra surto de Covid
País mantém meta de eliminar o vírus da Covid, estratégia que vem prejudicando o crescimento chinês assim como as empresas que investem no país
Com 22 milhões de habitantes, Pequim fechou 60 estações de metrô — ou 15% da rede —, 158 rotas de ônibus e estendeu as restrições contra a Covid-19 em muitos locais públicos nesta quarta-feira, concentrando esforços para evitar o destino de Xangai, onde milhões estão sob quarentena rigorosa por mais de um mês.
Segundo prestadores de serviços, a maior parte das restrições ocorre no distrito de Chaoyang, epicentro do surto de Pequim.
Sem dar um prazo, autoridades de Pequim também disseram que o fechamento de escolas, restaurantes, academias e locais de entretenimento — assim como de algumas empresas e prédios residenciais — se estenderá além do feriado do Dia do Trabalho, que começou dia 30 de abril e terminaria nesta quarta-feira.
Com dezenas de novos casos por dia, Pequim espera que testes em massa encontrem e isolem o vírus antes que ele se espalhe. Na cidade, 12 dos 16 distritos realizaram a segunda de três rodadas de testes nesta semana.
Os moradores foram incentivados a trabalhar em casa, sempre que possível, a partir de quinta-feira, em vez de retornar aos escritórios.
Na noite de terça-feira, a cidade central de Zhengzhou, que tem 12,6 milhões de habitantes e abriga uma fábrica da fabricante de iPhones da Apple, a Foxconn, também anunciou trabalho remoto e outras restrições para a próxima semana. Apesar do anúncio, a Foxconn disse que manterá a produção.
O anúncio inclui Zhengzhou entre dezenas de grandes centros populacionais submetidos a alguma forma de quarentena, enquanto a China procura eliminar um vírus que se acredita ter surgido pela primeira vez na cidade de Wuhan, no final de 2019.
Mas dados mostram que essa batalha intransigente está prejudicando o crescimento chinês e as empresas internacionais que investem no país, além de alimentar raras explosões públicas de descontentamento.
Protesto via blockchain
Enquanto isso, em Xangai, uma quarentena total permanece em vigor.
Depois de mais de um mês, a maioria das pessoas na maior cidade da China continental ainda não pode deixar seus conjuntos habitacionais.
Alguns se beneficiaram de uma tentativa de flexibilização das restrições desde domingo, com geralmente apenas um membro da família autorizado a passear e fazer compras.
Os dados mais recentes mostraram que Xangai registrou 63 novos casos fora das áreas sob as restrições mais rígidas, sugerindo que ainda há um caminho a percorrer antes de atingir a meta de não haver casos por vários dias para que as restrições diminuam significativamente.
O isolamento levou a um jogo de gato e rato entre censores e usuários de mídia social que se esforçam para manter as evidências das dificuldades circulando na rede. Alguns se voltaram para a tecnologia blockchain para proteger vídeos, fotos e obras de arte sobre o tema da exclusão.
Tais atos de desafio são embaraçosos para o Partido Comunista no ano em que o presidente Xi Jinping deve garantir um terceiro mandato de liderança.
Corte de previsão de crescimento
As autoridades dizem que a política de Covid Zero tem o objetivo de salvar vidas, apontando para os milhões de mortos pelo vírus fora da China, onde muitos países adotam uma estratégia de “conviver com o vírus” em meio à disseminação de infecções.
Mas a política está prejudicando o consumo e a produção domésticos, interrompendo as cadeias de suprimentos globais e reduzindo as receitas de marcas internacionais, incluindo Apple, a controladora da Gucci, Kering e a Yum China, proprietária da Taco Bell.
A Capital Economics estimou que a Covid-19 se espalhou para áreas que geram 40% da produção da China e 80% de suas exportações, enquanto a Fitch Ratings reduziu sua previsão de crescimento do PIB em 2022 de 4,8% para 4,3%, bem abaixo da meta oficial de 5,5% da China.
Várias fábricas foram fechadas depois que Xangai entrou em quarentena em março. Enquanto alguns começaram a reabrir, provou ser uma tarefa difícil recuperar os trabalhadores e desembaraçar as cadeias de suprimentosl.
Na zona de livre comércio de Lingang, 252 empresas, ou 52% do total, retomaram o trabalho em 3 de maio, informou a agência de notícias Xinhua. As autoridades estavam subsidiando a triagem de trabalhadores para Covid e fornecendo alívio de aluguel.
O comércio internacional também está enfrentando interrupções.
Um estudo do Royal Bank of Canada descobriu que um quinto da frota global de navios porta-contêineres estava preso nos portos.
No porto de Xangai, 344 navios aguardavam atracação, um aumento de 34% em relação ao mês passado. O envio de algo de um armazém na China para um nos Estados Unidos leva 74 dias a mais do que o normal, segundo o estudo.