Premier da Suécia renuncia, e extrema direita fará parte pela primeira vez do governo
Anúncio veio pouco depois de oposicionistas declararem vitória em eleições; provável futuro chefe do governo diz que quer 'juntar, não dividir'
A primeira-ministra da Suécia, a social-democrata Magdalena Andersson, reconheceu a derrota nas eleições realizadas no domingo e anunciou que apresentará sua carta de renúncia nesta quinta-feira. Os resultados finais apontaram que o país deve ser comandado por uma coalizão de direita, e também mostraram que a extrema direita se consolidou como a segunda maior força política do país e deve entrar pela primeira vez no governo.
De acordo com os últimos números, o bloco de direita, liderado por Ulf Kristersson (Partido Moderado), ficará com 176 parlamentares — um a mais que a maioria de 175 cadeiras — contra 173 da coalizão de Andersson, que agora passa para a oposição.
— É uma maioria pequena, mas é uma maioria, então amanhã [quinta-feira] vou anunciar minha renúncia — disse Andersson em entrevista coletiva, na qual também elogiou o desempenho do próprio partido, o Social-Democrata, que governou o país nos últimos oito anos. — Nós fizemos uma campanha eleitoral concisa, e tivemos um bom resultado nas urnas. O Partido Social-Democrata não é apenas o maior partido da Suécia, mas também de todo o Norte da Europa.
Segundo a última atualização, os social-democratas tiveram 30,7% dos votos, a maior votação dentre todas as siglas, e ganharam sete cadeiras em relação à atual configuração do Parlamento. Contudo, apesar dos ganhos dos Verdes, as outras duas siglas que integravam a coalizão de Andersson, a Esquerda e o Centro, perderam espaço no Legislativo. No discurso de derrota, a primeira-ministra prometeu liderar um governo de transição e disse estar pronta para “cooperar com quem quiser fazer parte da solução dos problemas que a Suécia enfrenta”.
Já do lado vencedor, o partido do líder da coalizão que deve governar a Suécia, o Moderado, perdeu cadeiras, assim como outros dois parceiros, os partidos Democrata Cristão e Liberal Popular. Contudo, os Democratas da Suécia (SD), sigla de extrema direita que chegou a ser “evitada” por Kristersson durante a campanha, serão cruciais para que ele seja o novo premier: segundo os resultados das urnas, o SD recebeu 20,6% dos votos, conquistando 73 cadeiras, 11 a mais do que tem hoje, confirmando o partido como o segundo maior no Parlamento.
— Os moderados e os outros partidos do meu lado receberam o mandato de mudança que pedimos. Estou começando agora o trabalho de formar um novo governo efetivo — disse Kristersson. — Eu quero juntar, não dividir.
Já Jimmie Åkesson, líder do SD, preferiu atacar o atual governo em suas primeiras declarações: “Vamos administrar essa responsabilidade da melhor maneira e com o mais profundo respeito. A política social-democrata durante oito anos levou o país na direção errada. É hora de começar a reconstruir a segurança, o bem-estar e a coesão. É hora de pôr a Suécia em primeiro lugar”, escreveu o líder extremista no Facebook.
Apesar dos discursos de júbilo, uma definição sobre o novo governo deve levar mais algum tempo, a começar por quem vai comandar de fato o país. Normalmente, o posto de primeiro-ministro cabe ao líder do partido da coalizão que teve o maior número de votos, mas não parece haver disposição dentro do bloco de direita para dar o cargo ao SD.
As posições radicais do partido, que é abertamente contra a imigração e tem supremacistas brancos em suas fileiras, podem complicar as conversas na hora de distribuir os cargos, mas provavelmente a sigla não ficará à margem da coalizão: afinal, sem ela, não será possível obter maioria.
Durante a campanha, o SD foi favorecido por alguns dos temas centrais de debate, como a violência de gangues, que também levantou o tópico da imigração: em busca de votos, a premier Andersson chegou a adotar medidas mais duras para restringir a entrada e a permanência de estrangeiros, e tentou apresentar suas credenciais no setor da Economia para convencer os eleitores a lhe darem mais um mandato. Apesar de conseguir avançar nas urnas com seu partido, não foi suficiente.
— Foi um pouco triste, afinal, sentamos juntos com os social-democratas por dois mandatos, governamos a Suécia e fizemos uma política vermelha e verde muito, muito boa juntos — afirmou o porta-voz do Partido Verde, Per Bolund, à SVT. — É importante que agora levemos a sério o papel da oposição.
Durante seu mandato, Andersson rompeu com a tradição sueca de décadas de não adesão a alianças militares ao iniciar o processo de entrada do país na Otan, a aliança militar ocidental, depois da invasão russa da Ucrânia.
A eleição sueca aconteceu duas semanas antes da eleição italiana de 25 de setembro, na qual a coalizão de direita, integrada pelo partido pós-fascista Irmãos da Itália, também é favorita. Se as pesquisas na Itália se confirmarem, seria mais um país da União Europeia com a ultradireita no Gabinete, depois da Polônia e da Hungria.