BUSCA POR PAZ

Presidente do Afeganistão e rival político assinam acordo para governar juntos

Decisão pode facilitar negociações de paz para encerrar guerra que perdura há 19 anos

Ashraf Ghani e Abdullah Abdullah, que governarão juntos o Afeganistão (Foto: Divulgação)

O presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, e seu rival Abdullah Abdullah assinaram um acordo de compartilhamento de poder para encerrar um impasse político de meses. O porta-voz presidencial, Sediq Sediqqi, publicou a decisão neste domingo, no Twitter. O acordo representa um passo que poderia facilitar os esforços para acabar com a guerra prolongada do país.

Abdullah lideraria o conselho de negociações de paz com o Talibã e os membros de sua equipe seriam incluídos no gabinete, acrescentou Sediqqi. O porta-voz disse que mais detalhes serão divulgados em breve. Não se sabia imediatamente quais posições ministeriais ficariam sob controle de Abdullah.

Abdullah contestou os resultados da eleição em setembro e anunciou a formação de um governo paralelo no início deste ano. A atitude vem minando a administração de Ghani em um momento em que os Estados Unidos tentavam um processo de paz com o Talibã para encerrar a guerra afegã de 19 anos.

Discussões sobre os pontos finais, incluindo a nomeação de alguns postos-chave, estavam em andamento ao longo do dia, disseram três fontes. Abdullah queria controlar postos importantes, como economia ou assuntos externos. Embora Ghani não tivesse concordado com isso, ele poderia oferecer o controle do ministério do interior, disseram fontes pouco antes da assinatura do acordo.

Desafios nas negociações

O governo dos EUA ficou frustrado com o crescente impasse entre os dois, mesmo depois que o secretário de Estado Mike Pompeo viajou para Cabul em março para mediar. Ele anunciou que planejava cortar US$ 1 bilhão em ajuda porque os líderes não entravam num acordo. Não ficou claro se o acordo de domingo resultaria no restabelecimento do compromisso.

O Afeganistão está enfrentando pressões fiscais crescentes, com a receita tributária caindo e as promessas de ajuda externa com vencimento previsto para este ano. Autoridades dizem que um acordo entre Ghani e Abdullah é crucial para iniciar conversações de paz, já que o campo de Abdullah representa grande parte do noroeste do país.

Mas as negociações enfrentam vários desafios, à medida que a violência no país aumenta. Um ataque a uma maternidade em Cabul nesta semana levou Ghani a trocar a estratégia militar para uma posição “ofensiva” contra grupos insurgentes.

O Talibã negou envolvimento no ataque, mas o governo permaneceu cético e irritado com os ataques contra as forças armadas afegãs, desgastando o desenrolar das negociações de paz, que deveriam ter começado em março.

O enviado especial dos EUA, Zalmay Khalilzad, disse na sexta-feira que uma nova data para as negociações de paz intra-afegãs estava em discussão.