Presidente ultraconservador se reelege na Polônia e oposição recorre
Andrzej Duda obteve 51,21% dos votos contra 48,79% de Rafal Trzaskowski
A oposição polonesa contestou na Justiça, nesta quinta-feira, o resultado do segundo turno das eleições presidenciais, no último domingo, que garantiram a reeleição do presidente ultraconservador Andrzej Duda, apoiado pelo Partido Lei e Justiça (PiS). A centrista Plataforma Cívica (PO), que tinha o atual prefeito de Varsóvia, Rafal Trzaskowski, como candidato, acusa a emissora pública TVP de favorecer Duda em sua cobertura. Em uma vitória apertada, Duda obteve 51,21% dos votos contra 48,79% de Trzaskowski.
— Pedimos que a eleição fosse invalidada — disse o líder da PO, Borys Budka, a repórteres. — Esta eleição não foi justa nem universal. Foi desonesta. Todo o aparato estatal violava a lei com seu apoio a Duda.
O pedido inclui denúncias de irregularidades feitas por cerca 2 mil pessoas, que tiveram problemas para se registrar para votar e outras que alegam que as cédulas de votação não foram enviadas a tempo. De acordo com a Constituição, o Supremo Tribunal tem até 3 de agosto para decidir se a eleição é válida ou não.
A deputada Barbara Nowacka, membro da Plataforma Cívica, reiterou que as eleições “não foram justas”.
— Uma das razões pelas quais estou apresentando este protesto eleitoral hoje é para que os que estão no poder saibam que os cidadãos os estão avaliando. Se deixarmos que isso aconteça, eles apertarão ainda mais os parafusos na próxima eleição — justificou.
Observadores da Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) afirmaram em comunicado, na última segunda-feira, que a eleição foi “obscurecida” pela cobertura tendenciosa da televisão pública. “A campanha do candidato (Duda) e a cobertura da televisão pública foram marcadas pela retórica homofóbica, xenofóbica e antissemita”, diz o documento.
A emissora pública polonesa foi muito criticada por fazer campanha aberta pela reeleição do presidente. Em junho, a TVP ressaltou que Trzaskowski recebeu uma bolsa de uma fundação ligada ao filantropo de origem húngara George Soros, figura demonizada por grupos de extrema direita no Leste Europeu, e insinuou que, caso o opositor vencesse, poderia desviar dinheiro dos programas sociais do governo para atender às reivindicações de reparação da comunidade judaica.
Apenas quatro dias antes do primeiro turno, a TVP também apresentou um relatório que enumerava as realizações do presidente, no cargo desde 2015, mostrando um sorridente Duda posando para fotos com eleitores, acompanhado de imagens de bandeiras polonesas. Às vésperas do segundo turno, um dos maiores grupos da comunidade judaica do mundo denunciou a TV pública por seu papel “odioso” contra os judeus.
Para vencer no meio da recessão provocada pela pandemia, a pior em 30 anos, Duda incrementou sua retórica direitista, retratando os gays, os imigrantes, a imprensa estrangeira e a Alemanha como inimigos da Polônia.