Primeiro-ministro do Líbano renuncia após explosão e protestos
Em discurso, premier disse que desastre na capital é 'resultado de corrupção endêmica' no país; fim de semana foi marcado por protestos violentos que pediam reforma política
O primeiro-ministro do Líbano, Hassan Diab, anunciou nesta segunda-feira a demissão em bloco do seu governo. No comando havia sete meses, Diab estava enfrentado uma forte pressão para renunciar após a explosão no porto de Beirute, que devastou a capital libanesa e deixou ao menos 163 mortos, mais de 6 mil feridos e 300 mil desabrigados na semana passada. Durante o pronunciamento na TV, o premier afirmou que a explosão de um armazém com 2.750 toneladas de nitrato de amônio era o “resultado da corrupção endêmica” do país.
— Hoje, nós seguimos a vontade do povo em seu desejo de uma mudança real — disse Diab. — Diante desta realidade, anuncio hoje a renúncia deste governo.
Antes do discurso, Diab se reuniu com sua equipe ministerial, após três titulares já terem anunciado sua renúncia desde a véspera. De acordo com fontes oficiais, os ministros já tinham a intenção de deixar o governo.
O desastre da última terça-feira aumentou ainda mais a tensão no Líbano, que enfrenta a sua maior crise financeira em décadas, e reacendeu os protestos por reforma política e contra a corrupção, que ocorrem desde o ano passado. A insatisfação da população com o governo aumentou ainda mais com a percepção de que houve negligência das autoridades, que mantinham armazenadas no porto, sem condições de segurança adequada, o nitrato de amônio. A causa da detonação ainda é desconhecida.
O fim de semana no Líbano foi marcado por grandes protestos populares, considerados os maiores desde outubro do ano passado, quando as manifestações eclodiram no país. Nos atos, houve confronto entre policiais e manifestantes; ao menos um policial morreu e 170 civis ficaram feridos, segundo informou a Cruz Vermelha no sábado. No domingo, a entrada do Parlamento em Beirute foi atingida por um incêndio durante a manifestação.
Diante dos protestos, Diab prometeu, no sábado, convocar eleições antecipadas para o Legislativo. Será a terceira vez em que o Líbano troca de primeiro-ministro em menos de um ano. Em outubro, a movimentação popular levou à renúncia do então premier Saad Hariri, substituído por um Gabinete de tecnocratas liderado por Diab, meses depois, em janeiro. O governo atual tinha o apoio do grupo xiita Hezbollah e do partido do presidente Michael Aoun, que é cristão maronita.
O sistema político libanês é formado por um modelo confessional, no qual os principais cargos são distribuídos entre representantes das religiões majoritárias. O presidente é sempre um cristão, o primeiro-ministro, um muçulmano sunita, e o presidente do Parlamento, um muçulmano xiita. Porém, o sistema é acusado de favorecer o clientelismo e corrupção.
Desde domingo, diversos ministros deixaram os cargos devido à pressão popular. A primeira a renunciar foi a chefe da pasta de Informação, Manal Abdel Samad, seguida pelo do Meio Ambiente, Damianos Kattar. Nesta segunda, a ministra da Justiça, Marie Claude Najm, também entregou o cargo.