ARGENTINA

Quino, criador da Mafalda, morre aos 88 anos

Cartunista argentino havia sofrido um AVC na semana passada; sua tirinha mais famosa, estrelada por uma menina sabichona e contestadora, foi publicada em mais de 35 idiomas

Quino brinca com uma estátua de sua maior cria, Mafalda, antes da cerimônia do Príncipe das Astúrias, em 2014 Foto: MIGUEL RIOPA / AFP

O cartunista argentino Quino, criador das tirinhas da Mafalda, morreu nesta quarta-feira (30), aos 88 anos. A morte foi confirmada pelo jornal “La Nación” e por Daniel Divinsky, editor do cartunista. “Morreu Quino e, com isso, todas as pessoas boas deste país e do mundo irão chorar”, publicou Divinsky nas redes sociais. Nascido em 17 de julho de 1932, em Mendoza, onde voltara a viver desde 2017, quando sua mulher Alicia Colombo faleceu, Joaquín Salvador Lavado era o mais renomado cartunista do mundo hispânico.

“A tristeza é absoluta”, disse uma pessoa próxima à família ao “La Nación”. Diversas fontes afirmaram ao jornal argentino que Quino faleceu por condições próprias da idade. Segundo o “Clarín”, o cartunista sofreu um AVC na semana passada. Nos últimos anos, por conta de problemas de circulação nas pernas, passou a se locomover de cadeira de rodas. Também tinha glaucoma, o que afetou-lhe seriamente visão. No entanto, pessoas que vivam próximas a ele afirmaram que o cartunista não perdeu o ânimo nos últimos meses.

As tirinhas de Mafalda, a menina sabichona, respondona e progressista, foram publicadas em mais de 35 idiomas. As 1.928 tirinhas de Mafalda foram criadas durante nove anos, entre 1964 e 1973. “Mas nunca terminei de aprender a desenhá-la”, afirmou há alguns anos. Malfalda é a tirinha latino-americana mais vendida do planeta e, cinco décadas depois, os comentários da menina continuam supreeendentemente atuais.

‘Desenhei-a por nove anos e segue atual. Uma pena, não?’

Depois de Mafalda, Quino não voltou a ter outro personagem fixo em suas tirinhas. “Desenhei-a por nove anos e segue atual. Uma pena, não?”, disse na abertura da 40ª Feira Internacional do Livro de Buenos Aires, quando confessou sentir muito carinho por sua personagem e por tudo o que ela lhe deu.

Quino recebeu o apelido que o tornou famoso ainda na infância; Seus pais, espanhóis da Andaluzia, escolheram o diminutivo para diferenciá-lo de seu tio, Joaquín, de quem herdou o nome e o gosto por desenhar.

Aos 18 anos, Quino trocou Mendoza por Buenos Aires. Aos 22, publicou sua primeira tirinha, no semanário “Esto es”. O primeiro livro, “Mundo Quino”, saiu em 1963, um ano antes da estreia de Mafalda na revista “Primera Plana”. Mafalda é uma menina de classe média, que gosta dos Beatles, não gosta de sopa e tem sempre na ponta da língua comentários agudos sobre as injustiças sociais. A partir de 1965, Mafalda e seus amigos (Susanita, Manolito e outros) passaram a estampar as páginas do jornal “El Mundo”, um dos mais influentes da Argentina à época.

Os primeiros esboços de Mafalda surgiram em 1962, quando Quino ainda trabalhava como desenhista publicitário e foi encarregado de elaborar tirinhas cômicas para a marca de eledromésticos Mansfield. A propaganda não empolgou os jornais, que não se interessaram em publicá-la, o quel liberou o cartunista e para tirar Mafalda e sua turma da gaveta dois anos depois.

Quino nunca explicou direito porque deixou de desenhar Mafalta. À época, ele disse que tinha medo de começar a se repetir. Recentemente, em entrevistas, passou a insinuar que temia represálias políticas. “Se eu continuasse desenhando, poderia tomar uns quatro tiros”, disse em uma entrevista dos anos 1990. De 1973 em diante, Quino só voltou a desenhar Mafalda para campanhas em defesa da democracia, da educação e da infância a pedido de instituições como a Cruz Vermelha e o governo argentino.