Rússia pede para moradores da fronteira com Ucrânia evitar apps de namoro
“O uso de serviços de namoro online é altamente desencorajado", afirma comunicado do governo da Rússia
(O Globo) Diante da ofensiva ucraniana que ocupou mais de mil km² em solo russo, e que pôs em xeque a capacidade do país de defender suas fronteiras, o Kremlin pediu aos moradores das regiões de Kursk, Belgorod e Bryansk que evitem aplicativos de namoro. O motivo: evitar fornecer dados e localizações às forças de Kiev.
“O uso de serviços de namoro online é altamente desencorajado. O inimigo usa ativamente esses recursos para ampliar sua coleta de informações”, afirmou, em comunicado, o Ministério do Interior russo.
Ao usar um aplicativo de namoro, o usuário fornece dados como sua localização e IP, o endereço exclusivo de cada dispositivo conectado à internet, além de detalhes pessoais, como nome, preferências, idade e fotos. Dados que podem ser utilizados por serviços de inteligência e no planejamento de ofensivas armadas.
A preocupação russa não é nova: em 2022, uma reportagem da Huck Magazine revelou que agentes ucranianos e até britânicos estavam usando esses aplicativos para obter informações cruciais, especialmente em áreas de fronteira, como Kursk. Militares convocados para o front quase sempre são obrigados a entregar seus smartphones, para evitar que seus aparelhos fossem localizados e servissem como alvos para os ucranianos.
Praticamente todos os aplicativos de namoro desenvolvidos no Ocidente, como Tinder, Bumble e Badoo, deixaram a Rússia desde o início da guerra na Ucrânia, sob alegações oficiais de que estavam “preocupados com a situação dos direitos humanos”, mas extraoficialmente também temerosos de possíveis impactos das sanções internacionais. Contudo, boa parte dos russos usa redes privadas virtuais (VPNs) para acessar esses serviços, embora elas também sejam proibidas.
Mas o comunicado do Ministério do Interior não é voltado apenas aos solteiros e solteiras de Kursk, Belgorod e Bryansk.
“O inimigo está identificando maciçamente faixas IP em nossos territórios e conectando-se remotamente a câmeras de vigilância por vídeo desprotegidas, visualizando tudo, desde pátios privados até estradas e rodovias de importância estratégica”, afirma o texto. “Nesse sentido, a menos que haja uma necessidade urgente, então é melhor não fazê-lo.”
A lista de recomendações é ainda mais longa: evitar abrir links desconhecidos e transmitir dados sensíveis por meios não protegidos; deletar conversas com pessoas capturadas pelos ucranianos; não publicar fotos vídeos de deslocamentos em redes sociais, assim como não marcar a localização das postagem, em especial aquelas que mostram movimentações de tropas e equipamentos militares; e remover de redes sociais dados sobre profissão e qualquer tipo de ligação com órgãos estatais.
Iniciada no dia 6 de agosto, a ofensiva ucraniana na região de Kursk, a primeira invasão terrestre da Rússia desde a Segunda Guerra Mundial, já ocupou mais de mil km² em solo russo, e comandou pelo menos uma cidade, Sudja, por onde passa o principal gasoduto ainda em operação rumo à Europa. Ao mesmo tempo em que tenta forçar os russos a redirecionarem forças de outras posições para proteger seu território, Kiev quer usar o avanço como uma moeda de troca em eventuais negociações de paz, que ainda não têm data marcada. O presidente russo, Vladimir Putin, afirma que não conversará com a Ucrânia enquanto houver tropas estrangeiras em suas fronteiras.