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Seis brasileiras são premiadas no programa 25 Mulheres na Ciência da América Latina

Seis brasileiras são premiadas no programa 25 Mulheres na Ciência da América Latina. O país…

Seis brasileiras são premiadas no programa 25 Mulheres na Ciência da América Latina. O país contabilizou junto com o México o maior número de premiações de pesquisadoras, atuando principalmente em áreas de inovação tecnológica na saúde e soluções sustentáveis para o meio ambiente.

O desenvolvimento de uma droga inovadora para tratar a leucemia infantil a partir de uma enzima modificada de bactéria, novos alvos moleculares para produção de medicamentos mais eficazes contra esquistossomose e uma nova técnica para detectar a presença do Sars-CoV-2 no organismo com custo de 5 a 10 vezes menor comparado ao RT-PCR. Estes são alguns dos projetos de pesquisa coordenados pelas cientistas brasileiras.

O programa é organizado pela empresa 3M para incentivar e reconhecer trabalhos com impacto positivo para gerar mudanças e estimular novas gerações de meninas e mulheres a atuarem na área científica, principalmente em Stem (sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática).

A bióloga Renata Bannitz Fernandes é a principal pesquisadora do projeto que criou um fármaco inovador a partir da enzima asparaginase, originária do fungo Aspergillus fumigatus, e que já é utilizada no tratamento de alguns tipos de câncer linfático, para o tratamento da leucemia mieloide aguda infantil.

Já a engenheira mecânica Rosângela Silqueira Hickson Rios, professora e coordenadora do curso de pós-graduação em tecnologias aplicadas à saúde da Faculdade Promove Tecnologia, em Belo Horizonte (MG), conseguiu identificar a partir de um banco com mais de 300 milhões de sequências moleculares três potenciais alvos para o desenvolvimento de uma droga mais eficaz no tratamento de esquistossomose, doença causada por verme parasitário de água doce.

Assim como outras doenças tropicais negligenciadas, a esquistossomose está intimamente associada à falta de acesso a saneamento básico. Segundo o Ministério da Saúde, 1,5 milhão de brasileiros vivem em risco para esquistossomose no país.

A única droga disponível no mercado, segundo Rios, foi desenvolvida na década de 1970 e não é tão eficaz. “As farmacêuticas não têm interesse em desenvolver remédios para doenças negligenciadas porque elas são muito comuns em países de baixa e média renda, que não terão poder de comprar, e não geram lucro”, afirma.

Sua pesquisa inovadora contou com um mapeamento feito totalmente em computador das proteínas que podem ser alvo para as novas drogas e deverá iniciar os testes para verificar a eficácia em breve.

A farmacêutica Andreza Francisco Martins, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), desenvolveu um método capaz de detectar o coronavírus Sars-CoV-2 em esfregaços do nariz ou da boca de pacientes com suspeita de Covid com resultado mais rápido do que o do teste RT-PCR, considerado padrão-ouro, e custo até dez vezes menor.

“A dependência no Brasil de insumos importados e a flutuação do dólar faz com que muitos dos testes de Covid-19 tenham preço elevado, não sendo de fácil acesso. A nossa técnica é muito mais custo-efetiva e pode ser usada, passada a pandemia, inclusive para detecção de outros vírus, como dengue, zika, entre outros”, diz. O teste utiliza o equipamento Maldi-TOF, que é um espectrômetro de massa, para identificar proteínas do vírus.

Outras pesquisas premiadas foram o desenvolvimento de um tipo de biomaterial mais eficiente e de menor custo para próteses e implantes, como para tratamento de hérnia de disco, da radiologista Esther Pereira; a identificação de um marcador molecular para doença isquêmica, capaz de refinar o diagnóstico para infarto do miocárdio, procedimento hoje que pode levar até seis horas em hospitais do país, da bióloga Gabriela Venturini da Silva; e uma nova rota enzimática para reaproveitamento de plástico a partir de enzimas já conhecidas utilizadas na quebra de rejeitos de cana-de-açúcar, da também bióloga Thamy Lívia Ribeiro Côrrea.

A cerimônia de apresentação das premiadas foi realizada na manhã desta quarta-feira (23), por meio de plataforma virtual. Foram premiadas também cientistas da Colômbia (4), Chile (3), Costa Rica (2), Panamá (2), Argentina (1) e Peru (1).

De acordo com um levantamento recente da Fundação EoS para a equidade de gênero, chamado “Women’s Power Gap”, mais de 55% dos títulos de doutorado nas 130 universidades de elite nos Estados Unidos são de mulheres, mas apenas 22% chegam a ser diretoras, chefes de departamento ou reitoras nas mesmas instituições de pesquisa. Esses números caem para 19% e 5%, respectivamente, quando consideradas mulheres não brancas.

No Brasil, de acordo com os dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ligado ao MEC, mais da metade (54,5%) dos matriculados em programas de mestrado e doutorado no país são mulheres, mas elas correspondem a apenas quatro de cada dez docentes em universidades de ensino superior.

Ainda, segundo dados recentes da Unesco, menos de 30% das pesquisadoras em áreas de Stem são mulheres.

Para Gabriela Venturini da Silva, o interesse pela ciência veio desde pequena. “Desde que me conheço por gente eu queria descobrir algo. A minha geração sempre teve como modelo de cientista um homem, branco, do hemisfério norte, de jaleco, e não mulheres como nós. Então acredito que iniciativas como essa trazem para as futuras gerações de meninas cientistas que elas olhem para a gente e pensem que alguém com o corpo, a cor, o cabelo delas, a figura semelhante, possa ser cientista também”, contou.

A premiação da 3M considerou aspectos como potencial impacto social direto ou indireto na América Latina; inovação; viabilidade; maturidade da ideia e capacidade e experiência. De acordo com a gerente técnica da empresa, Marcia Ferrarezi, ações do tipo são necessárias para ampliar o alcance das pesquisas científicas lideradas por mulheres e incentivar as gerações futuras.

“Estamos certos que esta iniciativa irá se consolidar e inspirar cada vez mais, não apenas as futuras gerações de mulheres cientistas, mas também várias organizações a promover programas como este e se juntarem à causa, que é promover a diversidade e inclusão na ciência”, disse.