Sob a sombra da Covid-19, países celebram Ano-Novo com discrição
Na maioria das principais cidades, não houve festa; ruas do Reino Unido ficaram praticamente desertas
Sob a sombra da pandemia de coronavírus, o mundo recebeu discretamente o ano de 2021 com praias quase vazias no Rio de Janeiro, público reduzido em um dos principais cartões-postais de Nova York e a avenida Champs-Élisées praticamente deserta em Paris.
Depois de o mundo atingir a triste marca de 1,8 milhão de mortos pela Covid-19, a vontade de deixar o ano marcado pela tragédia para trás teve como obstáculos as restrições reimpostas em muitos países para conter novos aumentos de infecções, e grande parte da população mundial só pôde acompanhar as celebrações dentro de casa.
Em Nova York, todo o distrito de Manhattan foi bloqueado, e os moradores foram orientados a acompanhar pela TV os shows de estrelas como Jennifer Lopez e Gloria Gaynor que, aos 77 anos, cantou o hit “I Will Survive” com um novo e mais amplo significado.
Na Times Square, as centenas de milhares de pessoas eufóricas que costumam acompanhar a descida de uma bola enorme marcando a contagem regressiva para a chegada de um novo ano foram substituídas por profissionais da linha de frente no combate à Covid-19, especialmente convidados e separados por cercas para garantir o distanciamento físico.
O prefeito nova-iorquino, Bill de Blasio, classificou 2020 como o ano mais difícil da história e prometeu, em janeiro, vacinar um milhão de pessoas, apresentando uma mensagem de esperança para a cidade que chegou a ser considerada o epicentro da pandemia.
Como presidente eleito do país que lidera o ranking de casos e mortes por coronavírus, Joe Biden disse estar otimista. “Os Estados Unidos podem fazer qualquer coisa, e estou totalmente confiante de que voltaremos ainda mais fortes”, disse em entrevista à TV americana o democrata que assumirá a Casa Branca em três semanas.
No Brasil, o segundo país com mais vidas perdidas para o vírus, pontos tradicionais de comemoração do Réveillon ficaram incomumente vazios. Na avenida Paulista, em São Paulo, por exemplo, apenas grupos pequenos celebraram a virada.
Em Copacabana, no Rio de Janeiro, poucas pessoas foram para a praia por volta da meia-noite. Grupos isolados brindaram, casais trocaram beijos e algumas pessoas jogaram flores no mar. A prefeitura fechou ruas do bairro e proibiu festas na orla para evitar a transmissão do coronavírus.
Este ano a tradicional queima de fogos da praia foi cancelada, mas ouviu-se o som de panelaços aos gritos de “Fora, Bolsonaro!” em protesto contra a postura negacionista do presidente diante dos quase 195 mil brasileiros que tiveram as vidas ceifadas pela Covid-19.
Citada frequentemente como um bom exemplo de gestão da crise provocada pelo coronavírus, a Nova Zelândia saudou a chegada de 2021 com multidões acompanhando as exibições de fogos de artifício em Auckland, a maior cidade do país.
Festa semelhante ocorreu em Sydney, embora em menores proporções, já que as autoridades australianas proibiram o acesso do público à tradicional queima de fogos na Opera House. “Acho que o mundo inteiro está olhando para 2021 como um novo começo”, disse à agência de notícias AFP Karen Roberts, uma das poucas sortudas que puderam assistir ao espetáculo.
Em Madri, aqueles que mantiveram a tradição de comer 12 uvas em atos sincronizados com as badaladas do famoso relógio da Puerta del Sol tiveram que fazê-lo em casa. A praça da capital espanhola ficou completamente vazia nesta passagem de ano após o cancelamento das festividades públicas.
Em Londres, como recomendado pelo governo, as pessoas também ficaram em casa. Até a transmissão do show virtual da cantora americana Patti Smith, prevista para ocorrer nos telões do Piccadilly Circus foi cancelada de última hora e ficou limitada ao YouTube.
Em contraste com a “festa do brexit” ocorrida em janeiro passado, desta vez os britânicos não puderam comemorar o divórcio definitivo entre Reino Unido e União Europeia, que se concretizou nesta sexta-feira. Algumas poucas dezenas de pessoas, entretanto, reuniram-se na Praça do Parlamento para ouvir o Big Bem no adeus a 2020.
Em Paris, um grupo de cerca de 20 policiais passou a noite fiscalizando os poucos veículos que circulavam pela Champs-Élysées, a avenida mais famosa da capital francesa. Sob toque de recolher para conter a propagação do coronavírus, os cidadãos que não portavam certificados de viagem receberam multas.
Na Rússia, o presidente Vladimir Putin reconheceu em seu discurso de Ano-Novo que uma “segunda onda” de Covid-19 atinge o país. “Infelizmente, a epidemia não foi completamente interrompida. A luta não para um minuto”, disse.
Com temperaturas de até 35° C negativos, algumas dezenas de pessoas mantiveram a tradição anual de mergulhar nas águas congelantes do lago Baikal, na Sibéria.
Em Wuhan, a cidade chinesa onde o vírus foi detectado pela primeira vez ainda no final de 2019, milhares de pessoas também festejaram a chegada de 2021.