Sob novos protestos, Chile estende lockdown em Santiago
País se desdobra para conter avanço da pandemia e novo crescimento das tensões sociais causadas pelo aumento da pobreza nas regiões mais carentes
O Chile viu nesta quarta-feira o acirramento da crise social e de saúde que atravessa. Pelo terceiro dia consecutivo, moradores de bairros pobres de Santiago, capital do país, foram às ruas protestar devido à falta de trabalho e comida durante o lockdown imposto pelo governo como forma de tentar conter o avanço do novo coronavírus no país e, em especial, nas áreas mais pobres.
Os moradores de La Pintana, um bairro de classe operária, com áreas muito pobres e perigosas, desafiaram a quarentena decretada em Santiago desde sexta-feira para protestar com cartazes, queimar barricadas, bater panelas e gritar slogans contra o governo. Eles acusam as autoridades de não oferecerem ajuda em meio ao aumento da epidemia no Chile.
Na semana passada, o país superou seus registros diários da doença e nesta quarta-feira adicionou 4.038 novos casos de Covid-19, elevando o total para 53.617 infectados, perfazendo um total de 544 mortes desde 3 de março. Para tentar frear o vírus, o ministro da Saúde, Jaime Mañalich, informou nesta quarta que o lockdown será renovado por mais uma semana na Grande Santiago e que as medidas de isolamento, com isso, durarão pelo menos até sexta-feira, 29 de maio. Para o desespero dos que protestam.
“Se o vírus não nos matar, a fome nos matará”, afirmava um dos cartazes dos manifestantes em La Pintana.
A polícia e militares do Exército, a postos para garantir o cumprimento do confinamento em Santiago, foram ao local para controlar os protestos, realizados principalmente por mulheres, mas permitiram que continuassem se manifestando pacificamente nas calçadas, removendo-os das rotas de circulação de veículos.
Os protestos começaram na segunda-feira na comuna de El Bosque, uma das mais pobres de Santiago, onde os moradores protestaram violentamente contra a decisão que causou a paralisia por pelo menos dois meses de atividades econômicas que forneciam postos de trabalho, como a construção civil e o comércio, devido à expansão da Covid-19.
— Há muita gente que trabalha na construção civil, como empregada doméstica, nos shoppings (shopping centers) e tudo o que já está fechado. Não podemos lidar com isso — disse uma das moradoras de La Pintana à Rádio Cooperativa.
A falta de trabalho deixou as famílias mais vulneráveis, sem dinheiro para comprar comida, o que motivou os protestos que se espalharam para outras comunidades em Santiago. Os municípios das comunas mais pobres distribuíram alimentos.
O governo anunciou que entregará 2,5 milhões de caixas de alimentos, medida que entrará em vigor no final de maio e que será diretamente voltada para as famílias mais vulneráveis, informou o presidente Sebastián Piñera na segunda-feira.