Talibã proíbe novelas com atrizes no Afeganistão e obriga jornalistas a usar véu
Grupo consolida primeira regulamentação oficial no setor desde que retomou o poder, em agosto
Três meses depois de retomar o poder no Afeganistão prometendo moderação e um regime diferente do quase medievalismo visto no final da década de 1990, o Talibã publicou no último domingo (21) um pacote de diretrizes para a mídia no país que mostra que a realidade guarda bastante distância do discurso.
A primeira regulamentação do setor desde que o grupo fundamentalista islâmico reassumiu o controle do país na prática afeta drasticamente o trabalho de mulheres em emissoras de televisão.
Segundo as novas regras, fica proibida a transmissão de dramas de TV que incluem atrizes —medida que mira, por exemplo, novelas produzidas na Turquia e na Índia, bastante populares em tempos e recentes e fundamentais para a renda de muitos canais.
O Talibã também vai passar a ordenar que jornalistas mulheres que apresentem notícias na TV se vistam com um hiyab. O termo em geral se refere ao véu islâmico que cobre o cabelo e o pescoço, deixando o rosto visível.
Embora a maioria das mulheres no Afeganistão já use vestimentas do tipo em público, a medida causou preocupação, já que, segundo ativistas ouvidas pela agência Reuters, como o padrão de hiyab não está especificado nas diretrizes, o termo pode ser considerado vago e interpretado de formas mais conservadoras.
Ao todo, o pacote estabelece nove medidas que, segundo o recém-reinstaurado Ministério da Promoção da Virtude e da Prevenção do Vício, visam coibir conteúdos que infrinjam os valores islâmicos ou afegãos.
As regras geraram críticas de jornalistas exilados e de organizações de direitos humanos. “Imagine como será a mídia com as novas diretrizes: um jornalista, um homem com uma barba espessa, lê sua reportagem e finaliza com elogios ao governo dos talibãs”, escreveu no Twitter Zaki Daryabi, diretor do Etilaat Roz, um dos principais jornais afegãos.
A organização internacional Human Rights Watch (HRW) afirmou que a liberdade de imprensa está se deteriorando no Afeganistão. “O desaparecimento de qualquer espaço para dissidência e o agravamento das restrições para as mulheres na mídia e nas artes é devastador”, disse Patricia Gossman, diretora associada para a Ásia da HRW, em um comunicado.