PESQUISA

Tiranossauro rex pode ter sido três espécies diferentes, sugere estudo

Segundo pesquisadores americanos, a classificação poderia ser desmembrada em outras duas, o T. imperator e o T. regina

Tiranossauro rex pode ter sido três espécies diferentes, sugere estudo (Foto: Pixabay)

O dinossauro mais famoso de todos os tempos provavelmente corresponde a pelo menos três espécies diferentes, que tinham distinções sutis entre si no que diz respeito à anatomia, à época em que viveram e talvez ao comportamento, afirma um novo estudo.

A hipótese, proposta por um trio de pesquisadores dos EUA, poderia desmembrar a classificação do célebre Tyrannosaurus rex, estabelecendo outras duas espécies: o T. imperator e o T. regina.

Não por acaso, todos os nomes científicos são variações de “rex”, ou “rei”, em latim —”regina” significa “rainha” e “imperator” é, claro, “imperador” na língua ancestral do português.

A análise que fundamenta a “tripla personalidade” dos tiranossauros acaba de sair na revista científica Evolutionary Biology. O estudo foi coordenado pelo pesquisador independente Gregory Paul e é assinado também por Scott Persons e Jay Van Raalte, da Faculdade de Charleston, na Carolina do Sul.

Com cerca de 12 metros de comprimento, o Tyrannosaurus rex viveu entre 68 milhões e 66 milhões de anos atrás numa ampla região do que passaria a ser a atual América do Norte. Tanto a distribuição geográfica vasta quanto a duração da existência do bicho abrem a possibilidade de que tenham ocorrido eventos de especiação, ou seja, formação de novas espécies de tiranossauros a partir de um ancestral comum.

Paul e seus colegas analisaram essa possibilidade levando em conta a variação já conhecida dos fósseis de T. rex, uma das espécies de dinossauros mais bem estudadas e com esqueletos relativamente abundantes. Sabe-se, por exemplo, que existiam formas mais gráceis (ou seja, com ossatura relativamente mais leve) e outras mais robustas do animal. Além disso, existem variações na dentição.

Alguns bichos possuem apenas um dente chamado incisiforme (por analogia com os incisivos dos mamíferos) em cada lado da mandíbula, enquanto outros contam com dois incisiformes.

O objetivo dos cientistas era avaliar como essas diferenças se comparam com a variabilidade de outros dinossauros, tanto em termos relativos (sendo maiores ou menores do que as diferenças que separam outras espécies) quanto ao longo do tempo.

Esse tipo de análise também ajudaria a estimar se a variabilidade dos T. rex poderia corresponder apenas a diferenças naturais entre indivíduos (como entre seres humanos altos e baixos, digamos) ou se poderia estar ligada ao dimorfismo sexual, ou seja, a distinções entre machos e fêmeas.

Gregory Paul e seus colegas trabalharam com 37 espécimes classificados como T. rex, dos quais foi possível analisar a robustez do fêmur (osso da coxa) de 24 animais. Desses, apenas 12 tinham tanto dentes quanto fêmures disponíveis.

Uma das principais conclusões é que a variabilidade na robustez dos ossos chega a 30%, o que supera aquilo que se vê em dinossauros aparentados que são classificados juntos.

As formas mais antigas são mais robustas e tendem a apresentar dois incisiformes pequenos, enquanto as mais recentes incluem tanto animais robustos quanto gráceis com apenas um incisiforme.

Isso levou os pesquisadores a propor que a forma robusta e mais antiga, com dois incisiformes, ganharia o nome de T. imperator, enquanto as mais recentes seriam o T. rex propriamente dito (também robusto) e o T. regina (mais grácil), ambas com um só incisiforme.

Haveria alguma diferença de hábitos entre o trio? Para Paul, uma possibilidade seria a diferença de presas, com os bichos mais robustos se especializando em atacar os poderosos herbívoros Triceratops, que lembram rinocerontes em forma de dinossauro.

“Parece que no fim do Cretáceo o T. rex, robusto, e o T. regina, mais grácil, estavam vivendo juntos. O segundo poderia ter evoluído para caçar os edmontossauros [herbívoros com bico semelhante ao de patos] —temos esqueletos deles com ferimentos na cauda que sugerem essa possibilidade”, disse o pesquisador à Folha.

Para o paleontólogo Rafael Delcourt, especialista na evolução de grandes dinossauros carnívoros e pesquisador de pós-doutorado na USP de Ribeirão Preto, a nova pesquisa traz discussões interessantes, mas os dados apresentados ainda estão longe de serem suficientes para sacramentar a “tripartição” do T. rex.

“É preciso olhar esses espécimes com mais cuidado e ir além da robustez do fêmur e das diferenças de dentição”, diz ele.

“De qualquer modo, as análises são importantes por chamar a atenção para o nicho ecológico ocupado pelos tiranossauros, que pode ter variado tanto durante a sua história evolutiva quanto durante o próprio desenvolvimento dos indivíduos ao longo da vida, com animais mais jovens e menores capturando presas diferentes dos adultos, por exemplo.”