Ucrânia e Rússia se acusam sobre ataque com ao menos 52 mortos
O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, classificou o ato –atribuído por ele à Rússia– de "maldade sem limites"
Ao menos 52 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas nesta sexta (8), em ataque contra a estação de Kramatorsk, no leste da Ucrânia, onde milhares aguardavam trens para deixar a região.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, classificou o ato –atribuído por ele à Rússia– de “maldade sem limites”. “Como eles não têm força nem valor para nos enfrentar no campo de batalha, destroem cinicamente a população civil. É uma maldade sem limites. Se não os castigam, jamais vão parar”, disse o líder do país em um canal no Telegram, denunciando os métodos “desumanos” das forças russas.
Mais tarde, falando ao Parlamento da Finlândia, ele afirmou que não havia soldados ucranianos na estação –o que invalidaria justificativas militares para o suposto ataque.
O Ministério da Defesa da Rússia negou responsabilidade e insinuou que a autoria seria da própria Ucrânia, segundo a agência de notícias RIA. De acordo com a pasta, o míssil era de um modelo utilizado apenas pelas Forças Armadas ucranianas, semelhante a um que teria sido disparado por Kiev contra Donetsk em 14 de março. O pedaço do foguete trazia a inscrição russa “pelas crianças”, o que gera dúvidas sobre sua origem. Os ucranianos da região são russófonos.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que não havia quaisquer missões agendadas em Kramatorsk.
O chefe da estação falara mais cedo em mais de cem feridos; entre os mortos haveria ao menos cinco crianças. Segundo o prefeito de Kramatorsk, cerca de 4.000 pessoas estariam no local na hora do ataque. A estação é uma das saídas da cidade, e a maior parte dos presentes era de mulheres, idosos e crianças.
“Os ‘rashists’ [fascistas russos] sabiam muito bem para onde estavam mirando e o que queriam: semear pânico e medo, queriam levar o maior número possível de civis”, escreveu o governador de Donetsk, Pavlo Kirilenko, segundo o qual muitos dos feridos estão em estado grave.
Disse ainda que foram usadas bombas de fragmentação contra a estação, munição, proibida por tratado a que nem Moscou nem Kiev aderiram, que libera projéteis menores no ato da explosão, amplificando a área de dano e, por consequência, mortes e ferimentos.
Na Europa, os líderes de Alemanha e Reino Unido repudiaram a ação, chamando-a de crime de guerra. Boris Johnson e Olaf Scholz se reuniram em Londres e, em entrevista coletiva conjunta, responsabilizaram o regime de Vladimir Putin. “É um crime de guerra atacar civis indiscriminadamente, e os crimes de guerra russos na Ucrânia não ficarão impunes”, afirmou o britânico.
O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, também condenou a ação. “Condeno com firmeza o ataque indiscriminado contra a estação de trem. Trata-se de uma nova tentativa de fechar as saídas para aqueles que fogem dessa guerra injustificada e de causar sofrimento humano”, afirmou ele no Twitter.
O espanhol esteve em Butcha, a cidade nos arredores de Kiev onde cadáveres ficaram espalhados pelas ruas e acumulados em valas comuns após a retirada russa, junto com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, acompanhando a exumação de corpos de uma vala.
As autoridades prometeram fazer o possível para que a adesão da Ucrânia ao bloco europeu –demanda de Zelenski– saia do papel, reabrir a embaixada da UE em Kiev e enviar € 500 milhões (R$ 2,5 bi) para o país nos próximos dias.
“O impensável aconteceu aqui; vimos a imprudência e a frieza com as quais ocupam a cidade”, afirmou Von der Leyen. “O mundo inteiro está de luto pelo povo de Butcha, e são eles que estão defendendo as fronteiras da Europa, a humanidade e a democracia”.
Autoridades ucranianas têm dito que a Rússia mudou seus objetivos militares na Ucrânia. Em vez de tentar tomar Kiev e imediações, suas forças recuaram e estariam se concentrando no leste, em Lugansk e Donetsk –onde a Ucrânia enfrenta separatistas pró-Moscou há oito anos e que foram reconhecidos como independentes pela Rússia poucos dias antes do início da guerra. Kramatorsk é a sede do governo ucraniano de Donetsk desde 2014.
Zelenski disse que Borodianka vive uma situação ainda mais terrível que Butcha–mas não apresentou evidências de que a Rússia é a responsável pelos mortos na cidade.
A procuradora-geral da Ucrânia, Irina Venediktova, disse que, na região de Kiev, Borodianka, Butcha e Irpin, foram encontrados cerca de 650 corpos, 40 dos quais de crianças.
Moscou nega estar atacando civis deliberadamente e rebate as denúncias afirmando que Kiev encena as tragédias com apoio de aliados do Ocidente.
Nesta sexta-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que a “operação especial na Ucrânia” pode terminar em um futuro próximo. E voltou a reconhecer que as forças russas tiveram um alto número de baixas.