AVALIAÇÃO

7 de setembro com ‘tom cívico’ e sem manifestações ideológicas

Cientistas políticos apostam em clima menos ideológico em torno das solenidades

O primeiro feriado da Independência comemorado no dia 7 de setembro com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na presidência da República deve ‘voltar a ter tom apenas cívico’ com manifestações políticas limitadas às redes sociais, sem alardes nas ruas. É o que apostam cientistas políticos ouvidos pelo portal Mais Goiás.

A data era emblemática para os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que tomavam as ruas em manifestações de apoio ao então chefe do executivo, e se tornou palco de atos em mensagens contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e até pedidos de intervenção militar. 

O primeiro dia 7 de setembro após a saída de Bolsonaro do Palácio do Planalto deve mudar o tom. O cientista político Guilherme Carvalho crê que, atualmente, há uma “desmobilização em curso” por parte da militância bolsonarista. “Até porque os atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro levaram uma parcela grande de lideranças e articuladores dos movimentos para o radar da política e das páginas policiais”, destaca.

“Há uma retração nesses movimentos por conta das ações penais e das investigações em curso. Dentro da militância bolsonarista há uma retração nessas manifestações que vão se limitar as redes sociais, apenas”, crava. Há também outro detalhe. Não existe mais recursos oriundos do Governo Federal.

“O movimento fica refém de recursos privados e fica mais difícil a mobilização nesse sentido. As movimentações, então, vão ficar mais focadas nas redes sociais. Nas ruas, o que vamos ver é algo mais tópico. Será um 7 de setembro, digamos assim, ‘parado’ do ponto de vista político”, destaca.

Desmobilização bolsonarista no 7 de setembro

A cientista política Ludmilla Rosa acredita que existe até esforços do Governo Federal em amplificar essa desmobilização bolsonarista. “Nos últimos tempos a data serviu como momento efusivo de esvaziamento ou desvirtuamento dos conceitos de pátria e patriotismo e colocou na centralidade a questão militar, como se a caserna fosse a garantidora dos elementos constitutivos do Estado independente brasileiro”, explica.

Agora a situação muda. “Será uma oportunidade do 7 de setembro voltar a ser uma celebração cívica”, salienta. “O governo acerta em trazer esse tom de normalidade institucional, apoiando a celebração na ideia de pátria independente. Esse deve ser o foco inafastável do 7 de setembro e não o que recentemente vimos como habitual, o que seja, uma mobilização contestatória dos poderes constituídos e da legitimidade das instituições”, destaca.

Todo esse contexto levará menos pessoas às ruas neste 7 de setembro. “Se durante o último governo tínhamos multidões nas ruas no dia da independência, cabe-nos investigar o que mobilizava tanta gente”, pondera. “Estavam nas ruas pelos motivos, sob o prisma democrático, errados”, destaca.

A desmobilização é admitida e até anunciada por lideranças bolsonaristas Goiás afora que pregam boicote às celebrações institucionais. O senador Flávio Bolsonaro (PL), por exemplo, convocou a militância para que possam doar sangue ao longo de setembro. De acordo com o parlamentar, todos os apoiadores do ex-presidente podem fazer suas doações nesta quarta-feira (6). “É o nosso grande dia de ato cívico para doação de sangue em todo o Brasil”, pontuou o filho do capitão da reserva.

A campanha de acordo com o parlamentar começou de forma espontânea a aproximadamente dez dias e não há problemas caso o manifestante não consiga fazer a doação nesta terça-feira (6). “Vale para qualquer mês de setembro”, salienta.

O deputado federal Rubens Otoni (PT) também acredita que será um dia de ‘reconciliação’ do brasileiro com a data. “Que seja uma manifestação cívica, com equilíbrio e maturidade. Deixando pra trás o radicalismo que o governo anterior tentou incorporar à data”, pontou ao Mais Goiás.