IGREJA BATISTA

‘A igreja tem que pedir perdão a Lula’: pastor que apoia PT renuncia

Diretoria da Convenção Batista Carioca, que era presidida por Sérgio Dusilek, emitiu nota afirmando que posicionamento foi pessoal

'A igreja tem que pedir perdão a Lula': pastor que apoia PT renuncia (Foto: Youtube)

O discurso do pastor Sérgio Dusilek durante o evento com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na região metropolitana do Rio na última sexta-feira, reverberou no meio evangélico nos últimos dias, e terminou com a renúncia dele ao cargo de presidente da Convenção Batista Carioca. No ato em São Gonçalo, com a presença de Lula, Alckmin e outros líderes religiosos, Dusilek disse que a igreja deveria pedir perdão ao ex-presidente.

— A Igreja tem que pedir perdão ao presidente Lula. O senhor não foi só alvo da injustiça do judiciário brasileiro. O senhor tem sido alvo da injustiça do clero brasileiro. E eu me envergonho por isso, presidente. Porque o senhor não merece, não merecia, continuar passando por essa injustiça. Eu termino minha palavra e agradeço ao Oliver e ao Alexandre, pela oportunidade, lendo um outro texto, do profeta Emiquéias, a palavra doce, para o senhor presidente e o senhor vice-presidente. Diz o senhor Deus: “Ele já mostrou a vocês o que é bom, e o que ele pede a você? O que ele pede a Lula e Alckmin…” — discursou.

Nem mesmo a renúncia foi o suficiente para interromper os ataques ao religioso nas redes sociais. O vídeo do discurso está sendo compartilhado e repercutido nas redes bolsonaristas, que têm atacado o pastor e seus familiares. Sergio Dusilek, inclusive, deletou seu perfil no Facebook e fechou sua página no Instagram.

A Convenção Batista Carioca (CBC) se descreve como uma comunhão das igrejas batistas da cidade do Rio de Janeiro. Em nota, a instituição afirmou que “já é público e notório que em nenhum momento houve autorização ou endosso de quem quer que seja ao supracitado pronunciamento. Embora o ex-presidente declare que a sua fala tenha sido estritamente de cunho pessoal, percebemos a impossibilidade de separar tal discurso da função exercida na presidência e, por sua vez, da imagem da CBC e dos batistas”.

No âmbito nacional, a Convenção Batista Brasileira (CBB), que representa 33 entidades estaduais das quais fazem parte 14 mil templos religiosos, também criticou a postura do pastor e de outros que se manifestem em nome das igrejas batistas.

“Reafirmamos que, como instituição, não declaramos apoio a nenhum candidato a cargo público ou partido político. Ao longo da nossa história de 151 anos zelamos pelos nossos princípios e pelo que cremos. Entre os princípios batistas estão a liberdade de consciência e a liberdade de expressão”, disse a CBB, em nota.

Pastores de outras igrejas batistas da cidade, filiadas à Convenção Batista Carioca, também condenaram e rebateram a fala de Sergio Dusilek. Pastor da Primeira Igreja Batista do Recreio dos Bandeirantes, Wander Gomes, discursou contra o colega de clero.

— A Igreja não tem partido ou não se envolve com partido político. O nosso trabalho é de cidadania. Assim como o pastor, cada irmão deve ter seu candidato, debaixo de oração, da sua consciência e da sua coerência. Mas nós não usamos, nesta igreja, cabresto — afirmou.

Nas redes sociais, segundo relatório da Casa Galileia, também houve críticasde setores evangélicos e conservadores a Dusilek, após seu discurso no evento com Lula em São Gonçalo. Por outro lado, também foram publicados conteúdos em defesa do pastor batista. O perfil “Cristãos contra o fascismo”, por exemplo, divulgou nota de solidariedade a Dusilek e destacou que “o pastor teve livros de sua autoria queimados, recebeu ameaças e nem mesmo os seus pais, Darci Dusilek e Nancy Dusilek, que já foram presidente e vice da CBB, foram poupados dos ataques”.

No evento em São Gonçalo, Lula adotou a nova estratégia eleitoral mirando o público evangélico com um novo discurso, declarando que ele “não teria chegado” onde chegou se não fosse “a mão de Deus dirigindo meus passos”.