COLUNA DO JOÃO BOSCO BITTENCOURT

A importância do “Goiânia Sim, Fred Não” na vitória de Mabel

O movimento conseguiu mobilizar principalmente os eleitores da deputada federal Adriana Accorsi, que teve 168 mil votos no 1º turno

A transferência de votos da deputada Adriana Accorsi (PT), que obteve mais de 168 mil votos no primeiro turno, para Sandro Mabel foi decisiva para a vitória do candidato do União Brasil para prefeito de Goiânia. Os números de pesquisa independente a que tivemos acesso a uma semana da eleição já indicavam que 77,7% dos eleitores de Adriana estavam decididos a votar em Mabel. Já às vésperas da votação, a intenção de votos dos eleitores da petista em votar em Mabel já atingia 90%, conforme levantamento do Instituto Atlas Intel. 

Para que ocorresse essa transferência de votos, tudo indica que a abertura do movimento “Goiânia Sim, Fred Não” pode ter sido decisiva no segundo turno. Um ponto indicativo desse resultado é que, enquanto a transferência de votos de Adriana para Mabel chegou a 90% segundo a pesquisa Atlas Intel, os eleitores dos candidatos Matheus Ribeiro, que ficou em quarto lugar com quase 47 mil e Vanderlan Cardoso, pouco abaixo desse número, ficaram divididos. 

O movimento “Goiania Sim, Fred Não” foi realizado entre os dias 19 e 26 de outubro, com ações pontuais, rede social ativa e a realização do Festival Ativista na última quinta-feira (24), quando Goiânia completou 91 anos. 

Conforme Marcos Torres, um dos articuladores do movimento, professor do Programa de Pós-graduação em Estudos Culturais, Memória e Patrimônio e Babalorixá do Ilê Fara Imorá Odê, o resultado das urnas é uma resposta ao bolsonarismo e mostra que esta união se tornou um marco bastante importante para o 2º turno das eleições municipais, porque conseguiu reverter indecisos, aqueles que não queriam votar ou pretendiam votar nulo e quem votou em outros candidatos. 

“Goiânia disse não a Fred Rodrigues. E o movimento foi importante para esse marco. Nos apresentamos e fizemos um debate importante na medida em que se propõe a derrotar a extrema-direita e na defesa da diversidade, do diálogo e da democracia. Por isso entendemos que foi um movimento vitorioso que contribuiu para a derrota da extrema-direita em Goiânia”, explicou o professor Marcos Torres. 

Para Yolanda Sulino, também coordenadora e parte da equipe de comunicação do movimento, houve uma grande mobilização da cena cultural com artistas, professores e estudantes que se uniram para dizer “Fred não”. “Muitos eleitores estavam inclinados a votar nulo ou em branco, e nosso principal objetivo foi resgatar essas pessoas, além de conquistar os indecisos, evidenciando que a extrema-direita nunca será a melhor opção”, avaliou. 

Sabrina Garcez

A coordenadora também cita a participação da vereadora e presidente do Republicanos em Goiânia, Sabrina Garcêz, na interlocução do movimento com o QG do prefeito eleito de Goiânia. “Foi fundamental para o diálogo entre nosso movimento e Sandro Mabel. Já engajada na campanha de Mabel, ao identificar o trabalho do “Goiânia Sim, Fred Não”, Sabrina se dispôs a nos dar visibilidade e conectar-nos ao candidato”, acrescentou. 

Ao destacar a importância do movimento progressista criado para atuar junto ao eleitorado desse campo, a vereadora Sabrina Garcez acrescenta que o movimento foi importante inclusive para “virar a chave do próprio PT, que logo após o segundo turno anunciou uma decisão de neutralidade do partido, o que poderia beneficiar decisivamente a extrema-direita em Goiânia.”

A psicóloga, feminista, artivista do “Bloco Não é Não” e também coordenadora do movimento “Goiânia Sim, Fred Não”, Cida Alves, também ressaltou a importância desses eleitores progressistas para a vitória de Mabel. Segundo ela, houve uma mobilização contra o extremismo, colocando as pautas, aglutinando forças e conseguindo mobilizar estes movimentos que estavam propensos a votar nulo. 

“Conseguimos mostrar a gravidade que é você ter o risco de um extremista assumindo o poder, seja municipal ou federal. O que até então estava só uma discussão entre a direita e a extrema-direita, ou seja, as nossas pautas tiveram que ser ouvidas. Consideramos que nós fortalecemos no 2º turno uma posição política que é de avanço, que é democrática, que tiveram que conversar sobre as nossas pautas e a gente mostrou a força que tem a cultura, a força que tem a juventude para aglutinar”, acrescentou. 

Goiânia Sim, Fred Não 

O movimento teve seu lançamento oficial no sábado, 19, na Federação de Teatro de Goiás (FETEG), no Setor Sul. A mobilização somou 15 mil seguidores em sua conta do Instagram e centenas de adesões à petição de adesão à causa que visa a construção de uma Goiânia plural e inclusiva. 

O Movimento realizou quatro eventos durante toda a semana e o Festival Ativista que foi realizado dia 24 de outubro, feriado e aniversário de 91 anos de Goiânia. Os eventos foram uma manifestação cultural que teve ações que vão além do entretenimento, porque se trata de um ato político organizado por pessoas que desejam se posicionar contra pautas extremistas na política.